Como os brasileiros sentiram a economia em 2018? G1 conta histórias de empreendedores

Como os brasileiros sentiram a economia em 2018? G1 conta histórias de empreendedores


Relatos mostram que o movimento de saída da crise tem sido sentido de maneira desigual; consumo das famílias também não se recupera de maneira homogênea. Brasileiros contam se sentiram ou não alguma melhora da economia em 2018
Celso Tavares/G1
A economia continuou crescendo em ritmo lento em 2018, com o consumo das famílias e os investimentos começando a se recuperar de forma gradual. No entanto, esse movimento não é sentido por todos da mesma maneira. Os dados do Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE) divulgados nesta quinta-feira (28) apontam que o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 1,1% em 2018. Se os números mostram um início fraco de recuperação, na chamada “economia real” essa sensação também é presente – ainda que não seja de maneira homogênea.
É o que dizem, por exemplo, os bailarinos André Matos e Patrícia Pressutti, que dirigem há 11 anos uma escola de dança na Zona Leste de São Paulo. Após a crise reduzir o número de alunos para cerca de 30% do que já chegaram a ter e levar ao fechamento de uma unidade, agora o movimento se estabilizou. “Vinha numa queda grande, e acabou por estabilizar um pouco. Mas ainda o ano foi bem amarrado”, conta André.
Para outros, o ano foi marcado pela volta dos investimentos. Foi o caso de Luana Crescêncio da Silva e Luis Gustavo da Silva, que expandiram sua empresa de festas infantis em domicílio, e do enfermeiro Guilherme George Souza Silva, que, junto com a esposa e também enfermeira Susiene Dias Vitorino da Silva, inaugurou uma casa de repouso na segunda metade de 2018. Os dois empreendimentos também são em São Paulo. Luana e Luis registraram em 2018 um crescimento no faturamento, o que levou à compra de mais equipamentos e a contratação de um funcionário extra. Já para Para Guilherme, o ano foi de concretização de um projeto que vinha sendo adiado pela crise. “A gente não tinha nem certeza se continuaríamos empregados, não podíamos ter certeza de que conseguiríamos abrir um negócio”, relembra. Mas, em 2018, ele se sentiu mais confiante de que a economia começaria a melhorar e decidiu arriscar.
Ao longo de 2019, o G1 vai acompanhar a história desses cinco brasileiros e como a economia do país vai afetar suas finanças e suas vidas
Consumo das famílias
Se para os três empreendimentos o ano foi de estabilização ou até crescimento, em relação aos hábitos de consumo pessoal o trauma da crise ainda gera algum receio para algumas famílias. Patrícia e André, que têm uma filha de 3 anos, ainda seguram os gastos. É o acontece também com Guilherme e Susiene, que têm um filho de 4 anos. “A gente ainda mantém a rotina dos últimos três anos, sem extravasar, por conta da insegurança, medo do futuro. É o trauma da crise ainda”, conta Guilherme. O mesmo, no entanto, não se pode dizer de Luana e Luis, pais de uma menina de 11 anos e um menino de 2. O casal conseguiu quitar um carro e viajar com a família no final do ano. A filha, que antes estudava em uma escola pública, pode ser matriculada em uma particular. Veja abaixo os relatos das três famílias sobre o ano de 2018 e a economia para eles:
Patrícia e André
Os bailarinos e professores Patrícia Pressutti e André Matos em sua escola em São Paulo: movimento se estabilizou em 2018
Celso Tavares/G1
O casal de bailarinos constata que o pior da crise já ficou para trás. “O final de 2016 foi bem tenebroso”, relembra André. Mas, apesar da estabilização da queda do movimento da escola, os ganhos ainda não retomaram o patamar pré-crise. A escola chegou a ter 250 alunos em seu momento de maior movimento, em 2013, e uma unidade extra em um bairro próximo. Mas, com a crise, esse segundo espaço fechou em 2015, e o número de matrículas hoje está próximo de 30% do registrado no pico. Agora, os professores contam que, em 2018, a queda cessou. “Muita gente foi saindo por conta de perda de trabalho, de contração às vezes pelo medo da crise. Quando, de certa forma, começou a se respirar, estabilizar, eles se mantiveram um pouco mais tranquilos e continuaram”, conta André.
Outro alívio foi que os planos de aulas de prazo mais longo, como os pacotes anuais, voltaram a ganhar força em relação aos mensais, mais frequentes durante a crise. “Não se fechava muitos planos (semestrais ou anuais). Fechava-se muito mais mensal do que plano. Agora eu estou tendo muito mais planos”, diz o André.
Mas, se na escola o movimento se manteve quase o mesmo que em 2017, com trabalhos extras o casal teve um ano melhor em 2018. Os bailarinos tiveram mais contratações de empresas para ocasiões como eventos institucionais e feiras. “As empresas acabaram investindo um pouco mais em eventos. Esse ano especialmente teve muitas paradas de Natal em shoppings”, diz André.
O casal Patrícia e André ainda sente os reflexos da crise e seguram os gastos familiares. Celso Tavares/G1
A recuperação dos negócios ainda em andamento reflete no consumo familiar. Em 2018, o casal manteve os cortes de gastos feitos no auge da crise. Eles optaram, por exemplo, em não matricular a filha em uma escola particular, e procuram aproveitar serviços de compra e venda de itens usados, como material e uniforme escolar. “A crise fez as pessoas terem um outro olhar. Eu nunca pensei em ficar vendendo coisas de bebê. Eu pensava em dar. Mas a coisa estava tão apertada, e as pessoas querem tanto pagar mais barato, que virou um hábito”, revela Patrícia. Ela também se diz “doida para retomar” o plano de saúde, mas diz que “por enquanto ainda não dá”.
Mas, para 2019, a expectativa da família é de melhora em seu negócio e, consequentemente, em suas possibilidades de consumo. “Eu estou vendo a coisa movimentar muito mais, uma procura muito maior nesse começo de ano. As pessoas realmente investindo em planos anuais. Então eu acho que uma coisa vai refletir a outra”, estima Patrícia. Guilherme
Com medo da crise, Guilherme George Souza Silva adiou seus planos para abrir casa de repouso; com perspectiva de melhora da economia, resolveu concretizar o negócio em 2018
Celso Tavares/G1
Quando inaugurou sua casa de repouso, no segundo semestre de 2018, Guilherme estava confiante que as notícias sobre expectativas de retomada da economia o ajudariam na nova fase. Diferente dos que, por causa da crise, partem para o empreendimento por necessidade ao perder seus empregos, Guilherme e Susiene tinham a casa de repouso como um projeto antigo, desde a época da faculdade. Trabalhando como enfermeiros em um hospital, eles esperaram a economia dar sinais de recuperação para concretizar o projeto do negócio próprio. Agora, com o cenário ainda incerto e os desafios maiores do que o esperado para manter uma empresa, Guilherme conta que o momento é de cautela. “Os 5 primeiros meses foram bem difíceis por conta dessa nova realidade: imposto, funcionário, carga tributária. No sexto mês a gente conseguiu se manter”, conta ele. “Conseguimos o equilíbrio, mas a gente não monta o negócio para ter o equilíbrio, a gente monta para ter lucro. Eu não tenho ainda prospecto de lucro, não sei quando isso vai acontecer. Mas a primeira etapa, que era a de empatar a entrada com a saída, estamos conseguindo. Ainda eu considero equilibrado, mas instável”, diz Guilherme. A casa tem capacidade para abrigar 20 idosos. Mas, quando foi inaugurada, abriu 10 vagas. Guilherme conta que o motivo foi a cautela com o início dos negócios. Hoje, o espaço tem 6 residentes, e a meta dos donos é abrir as 10 vagas restantes neste ano.
O enfermeiro Guilherme planejou o investimento em sua casa de repouso, mas se deparou com desafios maiores que o esperado; para ele, clima ainda é de cautela.
Celso Tavares/G1
Inaugurar a casa com menos vagas do que poderia não foi a única precaução que Guilherme e Susiene procuraram manter como empreendedores de primeira viagem. “Eu fiz um contrato de locação e estrutura de 3 anos, mas eu posso quebrá-lo em 18 meses, na metade. Eu pensei: se eu não conseguir me manter, eu vou aguentar o que eu tenho de reserva até 18 meses. E então eu posso sair, não sem prejuízos, mas sem outros encargos contratuais”, diz o enfermeiro.
A cautela com o negócio impacta nas decisões de gastos da família. “Você sempre pensa em guardar mais do que gastar por conta dessa insegurança econômica. Você evita uma viagem, você evita um passeio a mais. Não por uma questão econômica, mas por receio do que vai acontecer lá na frente”, conta Guilherme. Luana e Luis Gustavo
Luana Crescêncio Costa da Silva e Luis Gustavo da Silva comemoram o bom desempenho de seu buffet domiciliar em 2018: eles investiram em equipamentos, veículo e contrataram mais um funcionário.
Celso Tavares/G1
No ano passado, houve aumento dos preços dos serviços do buffet, que, segundo Luana, foi bem aceito pela clientela. Também subiu o número total de festas. Com o crescimento do faturamento, a pequena empresa precisou realizar investimentos como compra de equipamentos e aumento do quadro de funcionários. O saldo foi positivo, e a empresa fechou o ano chegando a fazer de 4 a 5 eventos em um único dia.
“A gente contratou uma pessoa a mais só para fazer os doces porque, como aumentou muito o número de festas, a gente não dava mais conta”, diz Luana. A empresa agora conta com 5 funcionários fixos. Há ainda mão de obra extra em dias de eventos, com pessoas contratadas como trabalhadores intermitentes.
Outro investimento feito no ano foi a compra de um veículo para a empresa. “Nós conseguimos um investimento que foi comprar a nossa Kombi, porque a gente precisa de um veículo desse porte para descarregar a festa completa na casa do cliente. Por um bom tempo a gente fez com o nosso carro e depois contratava uma pessoa. Só que a gente via necessidade de ter a nossa”, diz ela. O negócio, que começou em 2013 apenas como um trabalho informal de venda de doces, se tornou a única fonte de renda da família quando Luana e o marido ficaram desempregados e não conseguiram se recolocar, em 2015. Luana credita o crescimento à própria crise, contando que conseguiu encontrar um nicho de mercado que se encaixasse na realidade de corte de gastos das famílias. “Uma festa domiciliar é cerca de 53% mais em conta do que uma festa num buffet fixo. É uma grande saída para uma mãe que vai poder continuar fazendo festa para seu filho, de um jeito superbacana também, mas pagando menos. Esse público migrou para o nosso segmento”, analisa ela. Luana e Luis Gustavo comemoram conquistas da família em 2018: carro quitado, viagem em família e filha em escola particular
Celso Tavares/G1
O crescimento da empresa resultou numa elevação dos gastos da família, que terminou de pagar seu carro particular e ainda conseguiu aproveitar sua primeira viagem de férias, em Monte Verde (MG). “Mesmo sendo autônomos, trabalhando por conta, não tendo um registro em carteira, a gente pode fazer isso e foi legal. Não fomos para muito longe, mas foi uma experiência muito bacana. Nem quando nós trabalhávamos registrados a gente conseguia fazer isso”, conta Luana.
Para este ano, a expectativa do casal é que a melhora continue. “Se 2018 já foi bom, a gente tem uma expectativa que 2019 seja ainda melhor. Fazendo o primeiro comparativo do primeiro bimestre, já teve um aumento de festas do que a gente fez em 2017 e 2018. O crescimento continua.”
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