A China já desempenhou no passado um papel fundamental no sucesso da Tesla — e pode ser a chave para os problemas atuais da montadora. Elon Musk
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O bilionário Elon Musk está visitando a China esta semana para negociar com as autoridades do país a liberação do modo de autopiloto dos carros da Tesla nas ruas e estradas do país — segundo relatos da imprensa americana.
Musk quer que autoridades chinesas permitam o uso do Full Self Driving (FSD) — como é conhecido o modo piloto automático dos carros Tesla.
Com o FSD, robôs conseguem manobrar os carros na hora de estacionar os veículos, além de mudar os carros de pista durante as viagens. O FSD está disponível apenas em alguns países — como os EUA — mas apenas parcialmente na China.
Além disso, a imprensa também tem noticiado que Musk quer usar os dados coletados pela Tesla no país para treinar seus algoritmos no exterior.
A China é o segundo maior mercado da Tesla, mas a empresa americana vem sofrendo cada vez mais competição internacional justamente de empresas chinesas. Outros fabricantes de automóveis, como a Xpeng – com sede em Guangzhou – têm tentado competir com a Tesla, implementando funções de direção autônoma semelhantes nos seus carros.
O mercado consumidor doméstico da China também está em forte expansão. Comprar um carro elétrico pode ser mais barato do que comprar um carro a gasolina no país — graças em parte a incentivos dados pelo governo da China.
Nos últimos anos, a China se tornou um mercado fundamental para as operações da Tesla — e as relações de Musk com as autoridades chinesas foram cruciais para ajudar a empresa a enfrentar momentos financeiros difíceis. Ao mesmo tempo, o país também está gerando desafios para a multinacional americana.
Os desafios da Tesla
Há alguns anos, Elon Musk desdenhava dos carros elétricos produzidos na China. Em 2011, uma jornalista citou a BYD — empresa chinesa que estava produzindo carros elétricos mais baratos do que a Tesla — em uma entrevista com o bilionário, e ele a interrompeu com risos.
“Você já viu os carros deles?”, perguntou Musk. “Eu não acho que eles tenham um ótimo produto. Eu acho que o foco deles é — e como deve ser mesmo — garantir que eles não morram na China.”
Mas ao longo dos anos, sua opinião mudou. Nos últimos três meses de 2023, a empresa chinesa BYD ultrapassou a Tesla em número de veículos elétricos vendidos.
No domingo (28/4), já em viagem à China, Musk disse os fabricantes de automóveis chineses como “as empresas automóveis mais competitivas do mundo”.
Hoje a tecnologia FSD é a grande aposta da Tesla — e a China tornou-se um dos principais mercados onde a empresa tenta derrotar seus competidores.
O FSD foi lançado em 2020 — no entanto as autoridades reguladoras estão analisando de perto a nova tecnologia da Tesla.
Na semana passada, as autoridades americanas iniciaram uma investigação sobre um recall feito pela Tesla em dezembro de 2 milhões de veículos. A agência reguladora Administração Nacional de Segurança de Tráfego Rodoviário dos EUA (NHTSA, na sigla em inglês) disse que houve pelo menos 13 acidentes com carros Tesla e com uma morte e alguns ferimentos graves, em que o autopiloto pode estar envolvido.
A NHTSA quer saber se o recall de dezembro abordou com sucesso as questões de segurança relacionadas ao sistema de assistência ao motorista da Tesla.
A NHTSA disse que, apesar dos requisitos para que os motoristas mantenham o foco na estrada e estejam preparados para assumir o controle a qualquer momento quando a direção autônoma for habilitada, os motoristas envolvidos nos acidentes “não estavam suficientemente engajados”. A análise da NHTSA foi conduzida antes do recall da Tesla, em que a empresa prometeu que resolveria o problema.
O software da Tesla deve garantir que os motoristas estejam prestando atenção e que o recurso seja usado apenas em condições apropriadas, como em rodovias, e não em ruas.
Há anos, Musk vem prometendo que os Teslas serão capazes de atuar como “robotáxis autônomos”. Em 2015, ele disse que os Teslas alcançariam “autonomia total” até 2018. E em 2019, ele disse que a empresa teria robotáxis operando no ano seguinte.
Este mês, Musk disse que lançaria o robotáxi da empresa em agosto.
Os críticos acusam Musk de exaltar consistentemente as perspectivas de condução totalmente autônoma apenas como forma de sustentar o preço das ações da empresa, que vem caindo por causa de diversos desafios: desde a queda na demanda por veículos elétricos em todo o mundo à concorrência de fabricantes chineses mais baratos. Musk nega as acusações.
Como resposta, a Tesla tem cortado os preços dos seus carros na China e em outros mercados para aumentar a procura. O preço da tecnologia FSD caiu de US$ 15 mil (mais de R$ 75 mil) no ano passado para US$ 8 mil (mais de R$ 40 mil) este mês.
A Tesla relatou recentemente uma queda de 13% nas vendas automotivas, para US$ 17,3 bilhões nos primeiros três meses deste ano.
As vendas globais da Tesla caíram 9%, enquanto os seus lucros caíram drasticamente para US$ 1,13 bilhões, em comparação com US$ 2,51 bilhões no mesmo período do ano passado.
Até agora, em 2024, o preço das suas ações despencou 32%.
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Como a China pode ajudar Musk?
A Tesla oferece o FSD por assinatura na China há quatro anos, mas apenas parte dos recursos estão disponíveis no país, o que limita o sistema a operações simples, como mudança automatizada de faixa.
Entre os obstáculos está a falta de autorização na China para que a Tesla utilize os dados que são coletados pelo seu sistema para treinar algoritmos de direção autônoma. Musk tenta obter aprovação oficial para transferir dados coletados no país para o exterior.
Durante uma reunião no fim de semana com o primeiro-ministro chinês, Li Qiang, Musk foi citado pela mídia estatal dizendo que a Tesla estava disposta a cooperar profundamente com a China para “alcançar resultados vantajosos para todos”.
Em resposta, Li disse a Musk que o mercado chinês “estaria sempre aberto a empresas com financiamento estrangeiro”, de acordo com os relatórios.
A Tesla já tomou medidas para tranquilizar as autoridades chinesas sobre a implementação do FSD no país, incluindo o estabelecimento de um centro de dados em Xangai para processar dados sobre os consumidores chineses de acordo com as leis locais.
A implementação do FSD na China permitiria à Tesla competir com as empresas locais no maior mercado automobilístico do mundo.
A Tesla vendeu mais de 1,7 milhão de carros na China desde que entrou no mercado, há uma década, e sua fábrica em Xangai é a maior do mundo.
Segundo a agência de notícias Reuters, a implementação de FSD ilimitado poderia transformar o mercado chinês em um campo de batalha para recursos de assistência ao condutor mais baratos, intensificando uma guerra de preços que a Tesla desencadeou no início do ano passado, que atraiu mais de 40 marcas no país.
A China é fundamental na estratégia da Tesla para enfrentar seus problemas financeiros. As entregas de veículos da Tesla no primeiro trimestre caíram pela primeira vez em quase quatro anos. A empresa anunciou demissões de mais de 10% de sua força de trabalho global e reduziu os preços dos veículos nos principais mercados, incluindo EUA, China e Europa.
A China já desempenhou papel semelhante no destino da Tesla no passado.
Na década passada, o governo chinês adotou um padrão inspirado na lei do Estado da Califórnia para incentivar a venda de veículos sem emissões de gases nocivos ao ambiente. Essa mudança foi feita diante das preocupações ambientais com o alto nível de poluição de cidades chinesas.
O sistema californiano e chinês encarece a produção de carros a gasolina e diesel e barateia o custo de produção de carros elétricos, através da criação de créditos negociados em um mercado.
A mudança incentivou a Tesla a construir sua fábrica em Xangai, que é hoje a principal exportadora da empresa no mundo.
A China também teve papel importante para as vendas da China durante a pandemia de covid, já que a fábrica de Xangai ficou fechada menos tempo do que as operações americanas durante os lockdowns.
No entanto, analistas apontam que a China também representa um perigo para as operações futuras da Tesla.
A chegada da Tesla na China ajudou a desenvolver uma rede de fabricantes locais de veículos elétricos que hoje em dia ameaçam a hegemonia da multinacional americana — com processos de produção mais baratos e investimento vultuosos em novas tecnologias.