Informações constam do Relatório de Economia Bancária de 2023. Recorde foi registrado em ano de juros básicos em alto patamar. Governo pressiona pela redução da Selic. Santander, Itaú e Bradesco na disputa contra a concorrência dos bancos digitais
Lucas Lacaz Ruiz/Estadão Conteúdo/Arquivo; Itaci Batista/Estadão Conteúdo/Arquivo
O lucro líquido dos bancos subiu 5% em 2023, para R$ 145 bilhões, e bateu novo recorde histórico, informou nesta quinta-feira (6) o Banco Central. A instituição não informou qual o valor ajustado exato do lucro de 2022.
O aumento do lucro das instituições financeiras aconteceu em um ano no qual a taxa básica de juros da economia, fixada pelo Banco Central para conter a inflação, ficou em 13,75% ao ano até meados junho do ano passado – um patamar elevado, em termos reais, na comparação internacional.
A taxa Selic começou a cair somente em agosto de 2023, terminando o último ano em 11,75% ao ano, nível ainda alto na comparação internacional.
“Ao longo de 2023, o retorno do crédito aumentou, influenciado pelo peso das safras recentes nas receitas de crédito contratadas a taxas mais altas. O custo de captação também se elevou no período, mas apresentou redução no quarto trimestre em decorrência da queda da taxa Selic a partir de agosto”, informou o BC.
O patamar da taxa básica de juros da economia brasileira tem sido criticada recorrentemente pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O BC goza de autonomia em sua atuação, sendo que a atual diretoria, inclusive Roberto Campos Neto, presidente da instituição, foi indicada, em sua maioria, pelo ex-presidente Jair Bolsonaro.
O Banco Central tem argumentado que sua atuação, na fixação da taxa de juros, é técnica, e busca conter a inflação.
Em seus documentos, a instituição informa que um patamar mais alto de inflação prejudica, principalmente, a população de baixa renda.
Segundo o Banco Central, a elevação da margem bruta de lucro das instituições financeiras “tende a continuar à medida que os efeitos da queda da taxa Selic permaneçam reduzindo o custo de captação de forma mais rápida que o retorno do crédito”.
Racha no Copom
Copom se dividiu sobre o risco de reputação por ter indicado um corte maior de juros
A última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), realizada em maio, registrou divisão na diretoria do Banco Central sobre o ritmo de corte da taxa de juros – o que gerou nervosismo no mercado financeiro.
À ocasião, o Copom decidiu reduzir o ritmo de corte da taxa Selic – que caiu 0,25 ponto percentual, de 10,75% para 10,50% ao ano.
Entenda o que ocorreu:
Quatro diretores indicados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) votaram por um corte maior nos juros, de 0,5 ponto percentual, para 10,25% ao ano, mas foram voto vencido.
Quatro diretores mais antigos e o presidente do BC, Roberto Campos Neto, formando uma maioria, optaram por uma redução menor na taxa Selic.
O “racha” no Copom teve efeito negativo no mercado financeiro no dia seguinte. A bolsa de valores caiu, enquanto o dólar e os juros futuros avançaram.
O temor do mercado é que a diretoria do BC indicada pelo presidente Lula – com maioria no Copom a partir de 2026 –, possa ser mais leniente com a inflação, em busca de um ritmo maior de crescimento da economia.