Quem é Miguel Gutierrez, ex-CEO procurado pela PF por fraudes contábeis na Americanas

Quem é Miguel Gutierrez, ex-CEO procurado pela PF por fraudes contábeis na Americanas

Alvo da Operação Disclosure, começou sua carreira na Americanas em 1993 e passou quase 20 anos como presidente. Desde a revelação do escândalo, ele mora na Espanha e terá seu nome colocado na lista dos mais procurados do mundo da Interpol. Miguel Gutierrez, ex-CEO da Americanas
Reprodução
O ex-CEO da varejista Americanas, Miguel Gutierrez é considerado foragido pela Polícia Federal (PF), e terá seu nome colocado na lista dos mais procurados do mundo da Interpol.
Ele teve sua prisão preventiva determinada pela polícia em meio às investigações por fraude contábil de mais de R$ 25 bilhões na empresa, que resultou em uma recuperação judicial de R$ 50 bilhões, a maior do Brasil na atualidade.
Além dele, a PF pediu a prisão de Anna Christina Ramos Saicali, uma das ex-diretoras da Americanas na gestão de Gutierrez. Ela também é considerada foragida.
Agentes da PF cumpriram 14 mandatos de busca e apreensão contra ex-executivos da companhia na Operação Disclosure. Segundo o blog da Camila Bomfim, dois funcionários da Americanas fecharam delação e entregaram todo o esquema. (veja a lista de investigados abaixo)
Segundo a investigação, os resultados financeiros da Americanas foram maquiados para demonstrar um falso aumento de caixa que valorizava artificialmente as ações da companhia na bolsa de valores brasileira, a B3. (entenda o esquema adiante)
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Quem é Miguel Gutierrez
Bastante discreto, Miguel Gutierrez vive na Espanha desde que o escândalo da Americanas estourou, em janeiro de 2023. O ex-executivo nasceu em 1961, é brasileiro com dupla cidadania espanhola.
Gutierrez se formou em engenharia mecânica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e em economia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ). Também fez um programa de formação de lideranças nos Estados Unidos.
Começou sua carreira na Americanas em 1993, quando a companhia ainda era presidida por Carlos Alberto Sicupira, um dos acionistas de referência da empresa e parte do notório trio de bilionários, ao lado de Jorge Paulo Lemann e Marcel Herrmann Telles.
Ao longo de três décadas na companhia, passou por diversos setores e logo agradou aos bilionários, pois era focado em estratégias para corte de custos nas operações, segundo apuração da Bloomberg.
Gutierrez assumiu a presidência da Americanas 10 anos após seu ingresso na empresa, onde ficou até dezembro de 2022. Saiu porque renunciou ao cargo. Nestes 20 anos de comando, Gutierrez fez raras aparições públicas.
No seu lugar, entrou Sergio Rial, que havia feito carreira no banco Santander. O executivo ficou no cargo por apenas nove dias, e pediu demissão após identificar as fraudes contáveis nos balanços corporativos do grupo.
Ex-executivos do grupo Americanas são alvo de operação da PF
Outros investigados
Além de Miguel e Anna, outros doze executivos Americanas são alvos de busca da operação:
Anna Christina da Silva Sotero
Carlos Eduardo Rosalba Padilha
Fabien Pereira Picavet
Fábio da Silva Abrate
Jean Pierre Lessa e Santos Ferreira
João Guerra Duarte Neto
José Timotheo de Barros
Luiz Augusto Saraiva Henriques
Marcio Cruz Meirelles
Maria Christina Ferreira do Nascimento
Murilo dos Santos Correa
Raoni Lapagesse Franco Fabiano
A força-tarefa contou com procuradores do Ministério Público Federal (MPF) e representantes da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). A atual administração do Grupo Americanas também contribuiu com o compartilhamento de informações da empresa.
Disclosure, expressão utilizada pela Polícia Federal para designar a operação, é um termo do mercado de capitais referente ao fornecimento de informações para todos os interessados na situação de uma companhia e tem relação com a necessidade de transparência das empresas de capital aberto.
Como foi a fraude da Americanas
De acordo com a PF, a maquiagem dos números foi detectada, até agora, em operações de risco sacado e verba de propaganda cooperada (VPC).
▶️ Risco sacado é uma operação muito comum entre companhias, principalmente do setor de varejo. O analista de investimentos Vitor Miziara explica que essa prática consiste em repassar dívidas com fornecedores para bancos, fundos ou outras instituições financeiras.
“Quando você tem uma dívida com um fornecedor, no risco sacado, você repassa essa dívida para uma instituição financeira, que vai pagar direto para o fornecedor, e então você fica devendo para a instituição para liberar créditos novos com o fornecedor. Aí a instituição alonga o prazo dessa dívida e você paga o valor em mais tempo”, explica o analista.
No entanto, no caso da Americanas, as dívidas que eram repassadas por meio do risco sacado eram retiradas do balanço corporativo da empresa. Ou seja, as acusações são de que os executivos retiravam o valor das dívidas com fornecedores, como se elas já tivessem sido pagas, mas não sinalizavam que a dívida agora era com uma instituição financeira.
“Em vez de somar uma dívida aos valores devidos aos bancos na contabilidade, a empresa apenas subtraia do que era devido aos fornecedores, como se a dívida já tivesse sido completamente resolvida”, comenta Miziara.
▶️As verbas de propaganda cooperada (VPCs) são incentivos comerciais comuns no varejo. Nele, a empresa varejista faz propagandas oferecendo os produtos de seus fornecedores, que resultam em um desconto do valor que é devido pela companhia quando são vendidos.
Porém, a investigação da PF aponta que eram contabilizadas nos balanços da empresa as VPCs que nunca existiram ou que tiveram seus valores inflados.
Com os números manipulados e fraudulentos, os executivos recebiam altos bônus por um desempenho que era falso, além de conseguir lucros na venda das ações.
A PF identificou os crimes de manipulação de mercado, uso de informação privilegiada, associação criminosa e lavagem de dinheiro, o que pode gerar uma pena de até 26 anos de prisão, caso os investigados sejam condenados.
Relembre o caso Americanas
A gigante varejista Americanas informou um rombo contábil bilionário no dia 11 de janeiro de 2023. Naquele momento, a companhia disse que havia identificado “inconsistências em lançamentos contábeis” nos balanços corporativos no valor de quase R$ 20 bilhões.
Sergio Rial, então presidente da empresa e quem assumiu após a saída de Miguel, decidiu deixar o comando do negócio após apenas nove dias no comando.
Os investidores — pessoa física e institucionais — iniciaram uma corrida para se desfazer dos papéis. Isso fez com que as ações da companhia despencassem quase 80% em um único dia, e a fuga continuou nos pregões seguintes.
Em uma conferência após sua demissão, Rial disse “a primeira grande conclusão é que não estamos falando de um número que está fora do balanço. Só que ele não está registrado de forma apropriada ao longo dos últimos anos”, disse.
No dia 19 de janeiro, a Americanas pediu a recuperação judicial na Justiça do Rio de Janeiro e teve suas ações retiradas da B3. A primeira versão do plano de recuperação foi apresentada em março, mas a empresa só teve um plano aprovado no último dia 19 de dezembro, exatamente 11 meses depois.
A dívida final apresentada no plano foi de mais de R$ 50 bilhões, sendo uma dívida trabalhista de R$ 82,9 milhões e uma fraude de resultado de R$ 25,2 bilhões ao final de 2022.
O processo de recuperação envolverá um aporte de R$ 12 bilhões dos “acionistas de referência” — o trio de bilionários Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Herrmann Telles — e a venda de ativos, inicialmente o Hortifruti Natural da Terra e a Uni.Co (empresa de franquias das marcas Imaginarium e Puket).

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