Diretores do BC concordaram com início ‘gradual’ do ciclo de alta dos juros semana passada; mercado já vê aumento maior em novembro

Diretores do BC concordaram com início ‘gradual’ do ciclo de alta dos juros semana passada; mercado já vê aumento maior em novembro

Os diretores do Banco Central informaram que o início do ciclo de alta dos juros deveria ser “gradual” para se beneficiar, por um lado, do acompanhamento das informações sobre inflação, diante de um “contexto de incertezas”, mas reafirmaram seu “firme compromisso” de convergência da inflação às metas.
A informação consta na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, realizada na semana passada, quando a taxa Selic subiu de 10,50% para 10,75% ao ano – um aumento de 0,25 ponto percentual. Foi a primeira alta em dois anos.
Com isso, o Copom indicou que pode acelerar o ritmo de alta dos juros nas reuniões seguintes. A próxima reunião para debater o patamar da taxa básica da economia, com o objetivo de conter as pressões inflacionárias, está marcada para o início de novembro.
“O Comitê julgou que o início do ciclo deveria ser gradual de forma a, por um lado, se beneficiar do acompanhamento diligente dos dados, ainda mais em contexto de incertezas, tanto nos cenários externo como doméstico, mas, por outro lado, permitir que os mecanismos de transmissão da política monetária que possibilitarão a convergência da inflação à meta já comecem a atuar. Todos os membros do Comitê concordaram em iniciar gradualmente o ciclo de aperto de política monetária [alta dos juros]”, informou o BC, na ata do Copom.
Mesmo antes do recado, os economistas do mercado financeiro já passaram a projetar que o Banco Central vai acelerar o ritmo de aumento dos juros em novembro, promovendo uma elevação maior na taxa Selic, de 0,50 ponto percentual, para 11,25% ao ano.
Veja abaixo a estimativa do mercado para as próximas decisões do Copom, conforme pesquisa realizada na semana passada.
Como as decisões são tomadas
Para definir a taxa básica de juros e tentar conter a alta dos preços, no sistema de metas de inflação, o Banco Central olha para o futuro, e não para a inflação corrente, ou seja, dos últimos meses.
Pelo sistema de metas, que serve de referência para a atuação do BC, o Copom deve nivelar a taxa de juros para atingir as metas fixadas para os próximos anos, e não tendo por base a inflação passada.
A meta central de inflação é de 3% neste ano, e será considerada formalmente cumprida se o índice oscilar entre 1,5% e 4,5% neste ano.
A partir de 2025, e a meta passou a ser contínua em 3%, podendo oscilar entre 1,5% e 4,5% sem que seja descumprida (sempre considerando o cenário em 12 meses).
As decisões sobre a taxa de juros demoram de seis a 18 meses para terem impacto pleno na economia. Com isso, o BC já está mirando, neste momento, na inflação, no acumulado de doze meses, até março de 2026.
E as projeções do BC e do mercado estão, no jargão técnico, “desancoradas” das metas de inflação fixadas para o futuro, e subindo.
Na semana passada, os analistas dos bancos estimaram um IPCA de 4,37% para 2024, de 3,97% para 2025 e de 3,62% para 2026 — acima do objetivo central de 3%, mas dentro do limite de até 4,5%.
Na ata do Copom, o Banco Central projetou uma inflação de 4,3% para 2024, de 3,7% para 2025 e de 3,5% em doze meses até o primeiro trimestre de para 2026, também acima da meta central e dentro do intervalo de tolerância.
Na ata do Copom, os diretores do BC avaliaram que os dados referentes à inflação sugerem uma deterioração da composição da inflação.
“Observa-se, ademais, uma interrupção no processo desinflacionário no período mais recente. As taxas de inflação de bens industriais e de alimentação no domicílio cresceram na margem [últimos meses], possivelmente refletindo a depreciação cambial [alta do dólar] e um cenário mais desafiador advindo do clima”, informou o BC, na ata do Copom.
Além disso, o Copom concluiu que o cenário prospectivo de inflação, ou seja, que engloba as estimativas para o futuro, “se tornou mais desafiador, com o aumento das projeções de inflação de médio prazo, mesmo condicionadas em uma trajetória de taxa de juros mais elevada”.
Veja os recados do Banco Central
Ambiente externo permanece “desafiador”, em função do momento de inflexão [mudança] do ciclo econômico nos Estados Unidos, o que suscita maiores dúvidas sobre os ritmos da desaceleração, da desinflação e, consequentemente, sobre a postura do Federal Reserve (o BC norte-americano, no processo de corte dos juros do país).
Em relação ao cenário doméstico, o conjunto dos indicadores de atividade econômica e do mercado de trabalho tem apresentado dinamismo maior do que o esperado, segundo o Banco Central. “Vários membros enfatizaram que a dinâmica da atividade foi uma dimensão bastante relevante no período recente enfatizando as surpresas para o Comitê e para os analistas de mercado”, acrescentou o BC.
O Copom observou “continuado dinamismo no mercado de trabalho”, verificando-se ganhos reais nos salários nos últimos meses. “Como não há evidência de aumento significativo de produtividade, tais ganhos podem refletir pressão no mercado de trabalho”, avaliou.
Por fim, o BC criticou o “esmorecimento” de reformas estruturais e da “disciplina fiscal” – relacionada com as contas públicas (diante da dificuldade do governo de caminhar para um equilíbrio de suas contas).
“O Comitê reforçou a visão de que o esmorecimento no esforço de reformas estruturais e disciplina fiscal, o aumento de crédito direcionado e as incertezas sobre a estabilização da dívida pública têm o potencial de elevar a taxa de juros neutra da economia, com impactos deletérios sobre a potência da política monetária e, consequentemente, sobre o custo de desinflação em termos de atividade”, informou o Banco Central, na ata do Copom.

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