Dólar tem alta leve enquanto mercado digere acordo por Orçamento

Dólar tem alta leve enquanto mercado digere acordo por Orçamento

Após passar a maior parte do pregão em queda, refletindo certo alívio com o fato de que o pior cenário para o Orçamento parece ter saído de cena, a moeda americana acabou apagando o movimento e fechou praticamente estável nesta terça-feira, véspera de feriado no Brasil. O movimento contou com influência do exterior, onde uma piora marginal do apetite por risco também penalizou outros pares emergentes.

No encerramento dos negócios, a moeda americana subiu 0,15%, a R$ 5,5563. No mesmo horário, ela avançava 0,65% contra o peso mexicano, 0,46% frente ao rublo russo e 0,67% na comparação com o and sul-africano.

Para Ivo Chermont, economista-chefe da Quantitas, o encaminhamento da proposta orçamentária não fugiu muito do que se esperava, de um veto parcial com parcela das despesas ficando de fora do teto. “A gente pode dizer que é uma situação de copo meio cheio, meio vazio. De um lado, evitou-se o mal maior que seria sancionar tudo ou ainda decretar um estado de calamidade, que seria o equivalente a um cheque em branco. O PLN 2 aprovado ontem também deu instrumentos ao Executivo para remanejar gastos ao longo do ano sem precisar voltar ao Legislativo”, pondera. “A parte vazia do copo é reconhecer que o balanço entre emendas e despesas discricionárias pendeu para a primeira. Portanto, o governo vai ter que trabalhar no limite do limite para a máquina funcionar normalmente”, complementa.

Para Chermont, a negociação trouxe ainda a sinalização de que a classe política – Executivo e Legislativo – tem disposição clara em minimizar a necessidade de cortar gastos. Pelo contrário, mostra maior apetite em jogar para fora do teto ou da meta fiscal novos gastos. “Em um momento de pandemia como o que vivemos, é legítimo gastar mais com saúde. Mas também fica essa sensação de que estão dispostos a dar outros ‘driblezinhos’”, diz.

Tudo somado, o economista entende que o maior risco de curto prazo saiu de cena, mas que isso não deve gerar grande descompressão de risco no câmbio ou no dólar. “Também fica cada vez mais claro que o Banco Central não vai ter como fazer um ajuste parcial diante de tudo o que está acontecendo”, acrescenta Chermont, que mantém o cenário de que a Selic deve encerrar o ano em patamar neutro, de 6,50%.

Após semanas de incertezas, governo e Congresso fecharam um acordo para o veto parcial de R$ 10,5 bilhões em emendas de relator. Para fazer valer o acerto original de R$ 16,5 bilhões em emendas prometidas pela equipe econômica e recompor gastos subestimados, serão necessários outros vetos a trechos do Orçamento, que devem somar em torno de R$ 20 bilhões.

A proposta se tornou “exequível” graças à aprovação do PLN 2, que retira os gastos ligados à covid da contabilização do teto e do resultado primário. Com isso, o montante a ser gasto por fora do “arcabouço fiscal”, sempre citado pelos analistas econômicos, pode bater a casa dos R$ 100 bilhões.

Nas contas da equipe de economistas do Citi para o Brasil, a expectativa para o gasto extrateto em 2021 subiu de 1,2% do PIB para 2%, ou R$ 158 bilhões. “Nosso call para o gasto extrateto ficou desatualizado. Primeiro, a situação da pandemia se deteriorou, elevando o dispêndio com medidas de alívio. Segundo, o balanço de risco claramente pende para o negativo, dado que parece ser questão de tempo até que o governo anuncie novas medidas fiscais”, dizem os economistas Paulo Lopes, Leonardo Porto e Thais Ortega em relatório.

Os analistas salientam, por outro lado, esperar que o governo continue se valendo da abertura de crédito extraordinário para complementar os gastos à frente. Ainda que esta estratégia prejudique a credibilidade da regra fiscal no longo prazo, é um arranjo melhor que a decretação de um estado de calamidade, argumentam.

“[O estado de calamidade] é uma estratégia mais arriscada, dado que o resultado é, por definição, desconhecido”, notam os economistas do banco americano. Em 2020, relembram, a mesma regra ajudou a abrir espaço para uma despesa de R$ 524 bilhões em medidas de alívio à crise.

1 de 1 — Foto: Daniel Acker/Bloomberg

— Foto: Daniel Acker/Bloomberg

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