Propostas de financiamento se intensificam na Expodireto

Propostas de financiamento se intensificam na Expodireto

Claudio Medaglia, de Não-Me-Toque

Em duas operações de financiamento encaminhadas nesta quinta-feira (9) junto ao Banrisul, no parque da 23ª Expodireto Cotrijal, o agricultor Cláudio Pizzi adquiriu dois equipamentos para a propriedade rural onde vive com a família, no município de Liberato Salzano. Cliente antigo do banco, ele sequer buscou conhecer as linhas de crédito oferecidas por outros agentes financeiros, mas volta para casa seguro do formato dos negócios e da capacidade de pagamento.

Pelo Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), Pizzi negociou uma caçamba para transporte de grãos avaliada em cerca de R$ 80 mil, com juros de 5% ao ano. E aproveitou ainda para comprar um trator com preço na faixa dos R$ 500 mil, pelo Moderfrota. As taxas de 12,5% ao ano, associadas à não cobrança da comissão bancária, que varia de 2% a 10%, compuseram uma condição de negócio atrativa e confortável.

Na propriedade de 70 hectares e nos mais 180 hectares arrendados no município, ele, a esposa, Creci, e os filhos Carlos Eduardo e Andressa Carolina produzem soja, milho, trigo e frangos. Estruturados economicamente, eles foram às compras mesmo tendo sofrido com a estiagem do verão passado, quando colheram pouco mais de 11 sacas de 60 quilos de soja por hectare. Neste ano, a colheita que está por começar deve render talvez 3,6 mil quilos por hectare e deixar uma margem de quase uma tonelada na mesma área.

“A gente precisa olhar à frente e planejar os investimentos. No ano passado adquirimos outro equipamento, mas fazemos tudo com os pés no chão. Assim temos certeza de que não vamos ter dificuldade para pagar”, observa o agricultor.

Pizzi é um dos 70 clientes do Banrisul que deverão assinar contratos na Expodireto, evento para o qual o banco destinou R$ 500 milhões para emprestar aos produtores.

“A concretização dos protocolos de financiamento tem sido intensa nesses primeiros dias da feira. Procuramos organizar uma agenda para que os clientes pudessem vir e ser atendidos adequadamente, sem pressa. Acreditamos que o resultado final será no mínimo igual ao negociado na edição de 2022”, conta o superintendente regional do Alto Uruguai, Eloi Pedro Angst.

No ano passado, o Banrisul alcançou volume total de negócios de R$ 452,2 milhões na 22ª Expodireto Cotrijal. O resultado foi 74% superior à edição de 2020, última antes do surgimento da pandemia de Covid-19.

Nesta edição, mais uma vez, as linhas de financiamento mais procuradas pelos produtores são para compra de máquinas agrícolas, equipamentos de irrigação, armazenagem e investimentos em sustentabilidade, diz o gerente executivo de Expansão de Agronegócios, Baltazar Cardoso. Mas o banco também dispõe de recursos para custeio das lavouras ou mesmo para a atividade pecuária, com taxas de 5% a 12%, conforme o enquadramento do cliente no Pronaf, Programa Nacional de Apoio ao Médio Produtor Rural (Pronamp) ou Demais, via Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Assim como no Banrisul, o movimento nos estantes dos agentes financeiros no parque foi grande nesta quinta-feira. No Banco do Brasil e na Cresol Cooperativa de Crédito, clientes de diversos municípios da região conversavam com equipes reforçadas para dar vazão aos pedidos e tentar bater o martelo na assinatura dos contratos.

“Esse é o nosso quinto ano na Expodireto. Temos R$ 500 milhões para emprestar, mas acreditamos que a feira comportaria um volume ainda maior, de talvez até R$ 1 bilhão. Nossa expectativa é de encaminhar entre 70 e 100 protocolos de empréstimo até esta sexta-feira, o que seria um resultado muito similar ao do ano passado”, revela o diretor comercial Ademir Baccin.

Segundo ele, o cenário ainda incerto em relação aos rumos da política econômica brasileira, com a mudança de governo retarda a definição sobre juros e as alternativas ao tomador de empréstimos.

“Essa indefinição gera custo, pela instabilidade do mercado. O dinheiro fica mais caro enquanto a situação não se cristaliza. Entre uma política liberal, em que o mercado se autorregule, e um Estado mais atuante, acreditamos que esse governo irá priorizar os pequenos e médios produtores, que é o nosso foco. Mas é importante que a cadeia como um todo funcione”, analisa Baccin.

Em um cenário realista, ele acredita que haverá poucos avanços no Plano Safra em relação ao ano passado, quando os recursos praticamente se esgotaram antes mesmo do final de 2022. E isso, claro, impactará sobre os negócios do setor.

Os números finais da Expodireto Cotrijal devem ser divulgados no final da tarde desta sexta-feira, quando a coordenação da feira fará um balanço geral dos negócios. Por enquanto, o destaque é o desempenho das vendas no Pavilhão da Agricultura Familiar, que de segunda a quarta-feira movimentou R$ 1,2 milhão. A expectativa é de que os negócios superem o resultado do ano passado, quando o faturamento foi de R$ 1,7 milhão.

O jovem agricultor familiar Vinicius Juliano Pauwels, produtor de leite em Lagoa dos Três Cantos, assinou o primeiro contrato de Pronaf B de 2023 no Rio Grande do Sul junto ao Banco do Brasil. O Pronaf B ou Microcrédito Produtivo Rural é uma linha de financiamento pra agricultores familiares portadores da Declaração de Aptidão ao Pronaf (DAP) e/ou Cadastro Nacional da Agricultura Familiar (CAF) com enquadramento B de até R$23 mil de renda bruta anual, taxa de juros de 0,5% ao ano e bônus de adimplência de 25% com até 2 anos de prazo de reembolso. A finalidade do financiamento se aplica na ampliação ou modernização da infraestrutura de produção agropecuária e não agropecuária das propriedades.

A modalidade é uma pauta antiga da Fetag-RS e dos sindicatos dos trabalhadores turais e que foi intensificada nas negociações das medidas de combate à seca. Durante a manhã desta quinta-feira (9), Vinicius assinou o instrumento de crédito na presença da Fetag-RS e do Banco do Brasil durante a Expodireto Cotrijal.

A reivindicação da Fetag-RS persiste nos demais itens da pauta que ainda não foram atendidos, mas também na adequação e atualização de valores do Pronaf B para atender mais agricultores. Para o próximo plano safra, os sindicatos de trabalhadores rurais já solicitaram esta demanda seja levada até o Mistério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA).

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