Vale pagou acionistas e recuperou valor de mercado após tragédia de Mariana

Vale pagou acionistas e recuperou valor de mercado após tragédia de Mariana


Antes de suspender dividendos e bônus pelo desastre em Brumadinho (MG), empresa vinha fazendo pagamentos regulares; em 2018, distribuiu R$ 13 bilhões até setembro. A mineradora Vale não deixou de pagar seus acionistas após o desastre de Mariana (MG), há mais de três anos – quando teve um prejuízo bilionário e perdeu valor de mercado. Já o rompimento da barragem de Brumadinho (MG) fez a companhia suspender a remuneração e os bônus que vinha distribuindo regularmente.
ENTENDA: Dividendos e juros sobre capital próprio
Alvo de ações ainda sem solução por Mariana, a mineradora pagou R$ 1,8 bilhão em dividendos na forma de juros sobre capital próprio (JSCP) em 2016. No ano anterior, quando houve o desastre, a Vale anunciou um prejuízo líquido de R$ 44,2 bilhões, segundo a provedora de informações financeiras Economatica. Equipes de resgate fazem busca de helicóptero em área inundada dois dias depois do rompimento da barragem da Vale, em Brumadinho.
André Penner/AP
Dividendos são pagos aos acionistas de uma empresa que negocia ações na bolsa pelo lucro gerado no ano anterior – ou em anos anteriores. Já os juros sobre capital próprio (JSCP) são uma forma de dividendos pagos na forma de prêmio pelo capital investido. Entenda
Em 2016, a companhia chegou a informar que iria propor não distribuir dividendos aos acionistas naquele ano, citando a “volatilidade nos preços das commodities minerais” como motivo, mas o pagamento foi feito.
Desde então, a Vale vinha remunerando seus acionistas ano a ano, chegando a distribuir R$ 13 bilhões em 2018, maior quantia desde 2011, quando a mineradora pagou o valor recorde de R$ 15 bilhões, conforme dados da Economatica.
Quem recebe os dividendos
Mais da metade das ações da Vale (52%) pertence a várias classes de investidores, como os estrangeiros, segundo a B3. O segundo maior acionista é a Litel Participações (formada por fundos de pensão de estatais), com 19%. Também são acionistas importantes a BNDES Participações (7,6%), Bradespar (6,3%) e Blackrock (5,9%). O governo é dono de 12 ações (golden share) na mineradora, mas sua participação é irrelevante. Golden shares são uma classe especial de ações que oferecem direitos específicos, de caráter estratégico. A União ficou com essas ações após a privatização da mineradora, o que dá direito ao governo de interferir em assuntos como a mudança do nome e do objeto social da companhia; liquidação da empresa; alienação (venda) ou encerramento de atividades; entre outras. Veja quanto a Vale pagou em dividendos ou JSCP aos acionistas:
2015: R$ 5,07 bilhões
2016: R$ 1,829 bilhão
2017: R$ 4,667 bilhões
2018: R$ 13 bilhões (até setembro)
Pela Lei das S.A.s, as companhias devem distribuir dividendos de no mínimo 25% do lucro líquido do ano anterior, mais o pagamento de JSCP. Mas o estatuto de cada companhia pode definir o percentual a ser pago e até suspender a distribuição.
Bônus
Levantamento do professor da Fundação Instituto de Administração (FIA), Marcos Piellusch, com base em dados divulgados pelas próprias empresas, mostra que a remuneração da diretoria da companhia também cresceu desde 2015. Naquele ano, foram pagos R$ 93,3 milhões aos executivos, sendo R$ 22,28 milhões em salário. No ano seguinte, a remuneração total paga caiu para R$ 57,98 milhões – mas voltou a subir nos anos seguintes, para R$ 161,38 milhões em 2017, e R$ 170,54 milhões em 2018. Dividendos e bônus suspensos
A Vale anunciou nesta segunda (28) que seu conselho de administração decidiu suspender o pagamento de dividendos e juros sobre o capital próprio e de remuneração variável (bônus) aos executivos da empresa após o desastre de Brumadinho.
A notícia veio após decisões judiciais bloquearem R$ 11 bilhões em recursos da companhia.
Para o presidente da Mesa Corporate Governance, Luiz Marcatti, desta vez o ônus financeiro do desastre será gigante. “É muito difícil que uma empresa com estrangeiros entre seus maiores investidores e com ações negociadas no mundo todo consiga recuperar sua imagem”, diz. Os conselhos de administração sempre podem propor a suspensão deste tipo de pagamento por um motivo relevante, desde que ela seja aprovada em votação. “Diante da gravidade da situação, não dá para imaginar que seria diferente, até porque a justiça bloqueou um volume muito grande e a empresa nem teria condições de pagar”, observa Marcatti.
Valor de mercado triplicou após Mariana
Em 2015, a Vale perdeu R$ 45,9 bilhões em valor de mercado em relação a 2014, fechando o ano com R$ 61,6 bilhões, uma redução de 42%, segundo dados da Economatica. Mas em três anos, a mineradora recuperou as perdas e ainda mais que triplicou seu valor de mercado, fechando 2018 com valor de R$ 263 bilhões.
Privatização e produção recorde
Fundada em 1942 e privatizada em 1997, a Vale começou como uma empresa pública denominada “Companhia Vale do Rio Doce”, em Minas Gerais. Em 2017, a empresa registrou produção recorde de 366,5 milhões de toneladas de minério de ferro, a maioria exportada para a China. A Vale também explora níquel, cobre e outros metais.
Com 76,5 mil funcionários, a companhia atua em 30 países e diversificou seus atividades ao longo dos anos, com usinas hidrelétricas e ferrovias e portos para escovar sua produção.
* Colaborou Luísa Melo

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