Descomissionamento: entenda o processo anunciado pela Vale para acabar com barragens iguais às de Mariana e Brumadinho

Descomissionamento: entenda o processo anunciado pela Vale para acabar com barragens iguais às de Mariana e Brumadinho


Trabalho deve retirar os rejeitos da barragem e revitalizar a região; especialistas ouvidos pelo G1 explicam que o processo é caro e demorado. Cidade de MG foi palco de tragédia após barragem romper. A mina do Feijão na região de Córrego do Feijão, em Brumadinho, dois dias depois do rompimento da barragem da Vale.
Douglas Magno/AFP
O presidente da Vale, Fabio Schvartsman, anunciou nesta terça-feira (29) que irá fazer o descomissionamento das barragens com o chamado alteamento a montante, método utilizado nas estruturas que se romperam provocando tragédias em Mariana (MG), em novembro de 2015, e em Brumadinho (MG), na semana passada. Na prática, isso quer dizer que a empresa pretende “acabar” com as barragens desse tipo. As dez barragens a montante da Vale que ainda não foram eliminadas estão inativas – ou seja, já não recebem mais rejeitos. Agora, com o processo de descomissionamento, a empresa pretende eliminá-las. Schvartsman apontou que as possibilidades são esvaziar as barragens ou integrá-las ao meio ambiente: “Descomissionar significa deixa de ser barragens. São esvaziadas ou integradas ao meio ambiente”.
Em nota, a Vale disse que serão necessários três anos e R$ 5 bilhões para “descaracterizar as estruturas como barragens de rejeitos para reintegrá-las ao meio ambiente”. Vale vai gastar R$ 5 bilhões para acabar com barragens a montante
Especialistas ouvidos pelo G1 explicam que existem diferentes possibilidades para o trabalho de descomissionamento, com custos, efeitos e riscos diferentes. Entenda o processo de descomissionamento de barragens
Alexandre Mauro/G1
Uma delas, segundo o Professor do Departamento de Geociências da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) Miguel Fernandes Felippe, consiste em retirar os rejeitos das barragens por um processo de dragagem – na prática, os resíduos armazenados são “sugados” para fora da barragem. Depois disso, a empresa avalia qual a possibilidade de aproveitar parte do material. O que não for utilizado, então, é separado. A água que puder ser retirada pode ser armazenada em outra barragem ou, se tiver condições, voltar aos rios. Já os resíduos sólidos, ainda de acordo com Felippe, podem ser enviados a outra barragem, a um deposito seco ou até mesmo utilizado nas cavas das minas que já foram esgotadas – ou seja, os “buracos” causados pela empresa na exploração de minério seriam preenchidos com os resíduos da própria operação. Em seguida, as estruturas da barragem são retiradas do local para que se comece o processo de recuperação do solo e reflorestamento. “Quando se fala em descomissionamento, a gente espera também a recuperação ambiental da área. Tem que reintegrar os elementos daquele ambiente, trazer o rio de volta, reconstituir a vegetação”, diz Felippe.
Mas o professor ressalva que todo esse processo depende de uma série de fatores, como a composição dos rejeitos e do solo. “Tem uma série de possibilidades técnicas”, aponta.
Paulo Lanzarotto, professor de engenharia da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP), aponta que esse processo é bastante caro. Ele explica que uma alternativa mais barata prevê drenar a parte líquida dos rejeitos, cobrir o restante com terra e iniciar o processo de reflorestamento. A vantagem, segundo ele, é a de eliminar os riscos de comprometimento da estrutura com infiltrações. “Não tem mais acúmulo de água, porque a vegetação vai absorver”, diz Lanzarotto. Mas ele explica que os riscos de deslizamento pela pressão dos rejeitos continuam existindo. “Minimiza o risco por ter uma camada vegetal por cima, mas ele continua existindo. É muito parecido com o risco de uma superfície natural e inclinada.” Os especialistas afirmam que não existe uma possibilidade 100% segura. “Não existe risco zero. Qualquer que seja a estrutura ou tecnologia, vai gerar algum tipo de risco. Por isso que o monitoramento é importante”, alerta Felippe. Carlos Barreira Martinez, pesquisador da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e especialista em engenharia hidráulica, também diz que o processo de descomissionamento não é simples e tem um custo elevado. Portanto não representa uma solução rápida para reduzir os riscos das barragens construídas pelo método de alteamento a montante. “Vamos ter que entrar num processo de descomissionamento dessas barragens e tentar mitigar isso ao longo do tempo.”
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