Ações da Vale caem após suspensão de alvará em Brumadinho; analistas dizem que ESG deve ser o foco da empresa

Ações da Vale caem após suspensão de alvará em Brumadinho; analistas dizem que ESG deve ser o foco da empresa

Vale - Itabira Vale – Itabira (Divulgação: Vale)

SÃO PAULO – O alvará de funcionamento da Vale e de suas empresas terceirizadas foi suspenso, após a prefeitura de Brumadinho, em Minas Gerais, editar o Decreto nº 210, de 18 de dezembro de 2020, que foi publicado no Diário Oficial do Município de sexta-feira (18).

Com a notícia, nesta segunda-feira (21) os ADRs da Vale chegaram a cair cerca de 5,30%, no pre-market da NYSE, bolsa de valores de Nova York. Porém, os ativos amenizaram após a abertura, operando com queda de 2,53% às 12h15 (horário de Brasília), a US$ 16,93. Na B3, as ações da companhia recuavam 1,07% no mesmo horário, a R$ 86,89.

Os ADRs (Recibos de Depósitos Americanos, em português) são recibos emitidos nos Estados Unidos para negociações na bolsa de valores. Ou seja,  são recibos que possibilitam que empresas estrangeiras, como a Vale, participem do mercado de ações americano. Por isso, na prática, são ações brasileiras negociadas nos EUA.

O ato, assinado pelo prefeito Avimar de Melo Barcelos, foi em decorrência da morte de um operário de uma empresa contratada pela Vale, que trabalhava na Mina Córrego do Feijão. Ele estava na cabine de uma escavadeira, quando um talude desmoronou sobre a máquina na última sexta-feira (18).

Segundo a prefeitura, a suspensão é válida por sete dias ou até que o ocorrido seja esclarecido e a segurança dos trabalhadores esteja garantida.

“Ficam suspensos os alvarás de funcionamento e localização da Mineradora Vale S.A e das suas terceirizadas, principalmente a Vale Verde, pelo período de sete dias a contar da data de publicação deste decreto, ou até que sejam esclarecidos os fatos do acidente ocorrido em 18 de dezembro de 2020 e garantidas as condições de segurança para os trabalhadores que atuam no local”, diz o decreto.

Efeito nas ações

Como mostrado acima, o tombo nos ADRs da Vale na manhã desta segunda-feira (21), no entanto, não se refletiu com a mesma força no mercado brasileiro.

Segundo Pedro Lang, head de renda variável da Valor Investimentos, isso acontece porque os ADRs têm menos liquidez. “Mesmo com a notícia, a ação da Vale por aqui está caindo em linha com o mercado. Os ADRs têm menos liquidez, portanto caem mais forte”, explica.

Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos, acrescenta que esse descompasso entre os ADRs e os papéis da Vale no Ibovespa acontece também porque o cenário do dia está repleto de notícias que podem impactar o pregão – além do acidente da Vale.

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“Hoje vai ser difícil separar o que foi Vale e o que foi o mundo”, diz. Entre outras coisas, há casos de Covid-19 aumentando ao redor do globo, e uma nova variante do vírus no Reino Unido, que gerou uma onda de cancelamento de voos. É muita informação e os impactos do acidente da Vale devem ser sentidos ao longo da semana, segundo ele.

“Deve acontecer algo parecido com o caso do Carrefour. O impacto na ação não aconteceu no dia da morte do homem negro em um dos supermercados da rede, nem no dia seguinte. A empresa sentiu o impacto dez dias depois”, afirma o estrategista.

Cruz diz também que o acidente adiciona mais pressão na Vale, que vem enfrentando uma sequência de problemas nos últimos anos. “É uma pressão chata, com certeza ruim e que joga contra a ação. Agora, se isso vai afetar o negócio da Vale no longo prazo é mais difícil de prever. O papel da empresa sobe 68,90% no ano, enquanto muitas empresas estão penando na crise. A Vale é uma empresa que tem risco à parte do Brasil. É mais fácil o país quebrar do que a Vale”, diz.

Para ele, de maneira geral, o cenário para a Vale está positivo. “A China é um dos países que mais cresce e deve crescer acima do esperado ano que vem. Isso aliado à questão que a própria Vale informou, de que não vai cumprir guidance (a empresa reduziu a previsão de produção), puxa minério pra cima. Por isso, as condições da Vale estão boas, mas é a questão de imagem que traz volatilidade pra ação. Os investidores ficam de olho no histórico da empresa”.

ESG deve ser o foco

O acidente da última sexta-feira (18) dificulta ainda mais a tentativa da Vale de reconstrução de imagem após uma sequência de tragédias e desastres ambientais. Os investidores estão atentos à conduta da empresa.

Nesse sentido, o ESG, a adoção de melhores práticas ambientais, sociais e de governança corporativa, vira uma questão crucial para a Vale.

“Estamos vendo uma mudança no mercado. Antes, o ESG era o último slide das apresentações para investidores, ninguém falava do assunto. Agora todos dão o maior destaque possível. E a Vale precisa ainda mais disso para melhorar sua imagem”, diz Cruz.

Lang concorda. “Para mim, [o acidente] é ruim para a empresa, que vinha tentando desconstruir imagem de companhia que não zela pelos funcionários, pelo meio ambiente e pelas questões ESG”, diz.

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Ele acrescenta que devido a esse histórico da empresa, todo acidente que acontece na Vale vira escândalo. “O investidor institucional coloca um prêmio por conta do passado recente da Vale. Um mesmo acidente em outra empresa não vai ganhar a mesma proporção que ganha na Vale. E, por isso, a ação fica sujeita a essa volatilidade a ponto de os ADRs estarem caindo 5% lá fora mesmo em um dia em que o minério ferro está subindo”, diz.

Cruz também entende que o acidente ter ocorrido em Brumadinho prejudica ainda mais a empresa. “Se fosse o mesmo acidente na grande São Paulo teria impacto menor, mas foi em Brumadinho de novo, então pega muito mal para a empresa. As reações na internet são as piores possíveis.

Rompimento de barragem em Brumadinho

Em janeiro de 2019, ocorreu o rompimento da barragem B1 do córrego do Feijão, que continha cerca de 12 milhões de metros cúbicos de rejeito de minério. A tragédia causou a morte de mais de 270 pessoas e um rastro com quilômetros de destruição. O trabalhador da empresa terceirizada morreu no mesmo local na última sexta-feira.

A mina Córrego do Feijão, onde ocorreu o deslizamento que causou a morte deste operário, tem o mesmo nome do bairro rural Córrego do Feijão, que faz parte do município de Brumadinho.

A Vale disse que “lamenta profundamente” o acidente e que apoiará a família do trabalhador morto.

“As empresas estão apoiando as autoridades no atendimento ao caso e na apuração das causas do acidente”, disse a Vale. “As atividades de manutenção no local serão suspensas para novos estudos e avaliações das condições de segurança.”

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