“Pessoa física na Bolsa foi surpresa na crise”, diz presidente da B3

“Pessoa física na Bolsa foi surpresa na crise”, diz presidente da B3

O juro baixo trouxe uma revolução para o mercado de capitais brasileiro em 2020, a despeito do baque econômico que veio com a pandemia. Um dos efeitos mais evidentes foi o crescimento do número de investidores pessoa física, que dobrou. Hoje são 3,2 milhões, que possuem R$ 424 bilhões investidos em ações. A tendência segue de crescimento.

Para o presidente da B3, Gilson Finkelsztain, essa foi a grande surpresa positiva em meio à pandemia. “As pessoas físicas viram na queda da Bolsa (no início da pandemia) uma oportunidade de entrada, e não de retirada de seus investimentos”, afirma.

Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista:

Apesar da pandemia, de um ano de volatilidade e economia fragilizada, a bolsa brasileira bateu recorde de ofertas. O que explica?

Todo mundo esperava um ano positivo no início do ano, mas ninguém esperava essa trajetória. Eu credito esse movimento, sem dúvida, ao juro baixo. O atual patamar da Selic, definitivamente, faz as pessoas repensarem seus investimentos. Os brasileiros estavam muito acostumados ao juro de 1% ao mês, algo que era totalmente fora do normal e alijado da realidade do mundo. Esse foi o grande catalisador. Essa agora é uma tendência sem volta.

Algum outro fator?

Fora isso, tivemos o tema tecnologia, que está facilitando o investimento. Finalmente o segmento de distribuição está tomando uma certa forma. Está ficando claro que vai haver os vitoriosos desse cenário de consolidação do sistema de distribuição independente, algo capitaneado pela XP, principalmente, mas com o BTG também ganhando corpo. Esse movimento fez com que os grandes bancos também revisassem a sua forma de trabalhar. E ainda tem uma nova geração que está estudando mais investimento. Mas o que tirou o mercado da inércia foram os juros e o resto ajudou. Essa agora é uma tendência sem volta.

O número de pessoas físicas na Bolsa cresceu em todos os meses, apesar da crise. Esse comportamento era esperado?

Acho que talvez essa tenha sido a maior surpresa positiva nesse período. Estamos no início do processo de diversificação e de educação financeira, e acho que isso também ajudou no comportamento das pessoas físicas, que viram na queda da Bolsa uma oportunidade de entrada, e não de retirada de seus investimentos (após a forte queda do preço das ações no início da pandemia). As pessoas físicas colocaram mais de R$ 80 bilhões diretamente em ações. O volume e a velocidade dos investimentos foram a maior surpresa no meio da crise.

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A Bolsa está se tornando mais democrática para empresas menores conseguirem fazer suas captações?

Definitivamente sim. Durante muito tempo se questionou sobre o porquê de as empresas médias não abrirem capital. Mas a verdade é uma só: sempre houve bons casos e boas empresas. Oferta sempre teve, mas não se tinha demanda. Não tinha demanda porque os fundos de ações não recebiam recursos e as pessoas físicas não compravam ações. O problema para as empresas médias abrirem capital no Brasil era a falta de demanda por conta de juro alto. O que vimos nesse ano foi empresas fazendo IPO de R$ 200 milhões a R$ 12 bilhões. Isso veio para quebrar paradigmas. Fora isso, também tivemos maior diversidade regional das empresas que abriram capital.

E qual é o principal risco para interromper esse crescimento do mercado?

A normalização dos juros deve ser ao redor de inflação mais 1 ponto, de 4% a 5%. Se for esse o patamar, com retomada de crescimento, continua sendo muito positivo e não vejo motivo para isso frear o desenvolvimento do mercado de capitais no ano que vem. O mercado se preocupa não é nem se teremos uma pauta arrasadora de reformas, mas se será preservada a responsabilidade fiscal, teto de gastos e equilíbrio fiscal. Na minha visão, se tiver uma combinação de equilíbrio fiscal com uma pequena agenda de reformas, que preserve teto de gastos e, principalmente, focada em concessões e privatizações, já será o suficiente para termos um ano muito bom. O maior risco é uma agenda que não garanta a preservação de inflação e juros baixos.

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