Por que seguir otimista com ações mesmo com a alta dos “yields” americanos

Por que seguir otimista com ações mesmo com a alta dos “yields” americanos

(CONDADO DA FARIA LIMA) – Cada mercado tem a “crise” que merece: se aqui no Brasil a nossa bolsa tem sofrido com o aumento do risco político e com os novos recordes de casos e óbitos causados pela Covid-19, no exterior a grande preocupação hoje é com a tal da “alta dos yields de longo prazo das Treasuries (títulos do tesouro dos EUA)”.

Resumindo em um bom português: a taxa de juros nos EUA está na faixa de 0% e, pelos discursos da equipe do Federal Reserve (Banco Central dos EUA), essa taxa vai ficar parada até 2024. Contudo, com a economia americana trazendo resultados cada vez mais robustos, há quem comece a achar que o Fed tenha que subir juros mais cedo, para conter uma eventual inflação. Isso tem feito o rendimento de títulos de longo prazo da dívida americana subir. E quando o ativo tido como “o mais seguro do mundo” está pagando um juro melhor, os investidores ficam menos dispostos a correr risco de bolsa – principalmente após longos anos de fortes altas por lá. Por isso os mercados lá fora têm mostrado mais volatilidade nas últimas semanas.

Mas afinal, essa alta dos yields das Treasuries é uma mudança estrutural no mercado ou é algo pontual e que não deve mudar a tendência de alta das bolsas? Esse foi o tema do Coffee & Stocks desta quarta-feira (3). Nosso convidado, Ruy Alves (gestor de ações internacionais da Kinea) deixou claro por que está no “lado otimista” da história:

“Sim, vamos ter pressões inflacionárias de curto prazo e isso vai assustar o mercado. Como devo me posicionar pra isso? Depende do que você acredita. Se você acredita que tem muito hiato do produto e que a economia americana vai voltar muito forte, você teria que ter uma visão muito “bullish” (otimista), porque a capacidade de oferta da economia americana vai fazer a inflação ceder”.

Acima você confere o vídeo da conversa inteira com o gestor. Abaixo, os melhores momentos da entrevista:

APRESENTAÇÃO DA TESE:

  • Estamos na segunda fase do ciclo econômico e o crescimento de lucro vai ser muito forte: empresas tech devem crescer lucro em torno de 20% e as ações cíclicas vão crescer 30%.
  • Nessa fase, o hiato do produto vai se fechar na economia, as pessoas vão deixar de ser empregadas e o PIB potencial vai voltar. O que acontece nesse momento? Taxas de juros ‘longas’ começam a responder. E isso é bom, é saudável. A pior coisa que poderia acontecer é as taxas longas não subirem, porque isso implicaria que o mercado não acredita na recuperação da economia no longo prazo.

  • O excesso de volatilidade no curto prazo não significa que não teremos crescimento no ciclo longo. O medo do mercado não é o nível da taxa, é a volatilidade da taxa.

TESES DE INVESTIMENTOS:

  • Como crescimento de lucro vai ser muito forte, ações cíclicas vão crescer mais forte. Mas não abandonamos as big 5 de tecnologia em momento algum: não são as ações prediletas no começo do ano mas não tiramos elas.
  • Trouxemos de volta os bancos para a carteira. Eles se beneficiam muito com taxas de juros: o banco pega o juro com a taxa de hoje e empresta com a taxa de longo prazo. Nossa preferência continua sendo JPMorgan. Gostamos também do Morgan Stanley.

  • Também investimentos em empresas de cassinos: chinês é louco por apostas, mas ele não está fazendo isso agora. Uma hora isso vai voltar. Temos posições em Las Vegas Sand e Wynn Resort

  • Está faltando semicondutor no mundo. Biden tem um plano pra isso e nossa ideia neste momento é investir em empresas produtoras de maquinários de semicondutores. Temos posições em ASML, Lam Research e Applied Materials.

  • Na economia, o sol nasce e o sol se põe. Nesse momento, estamos no nascer do sol, que é o crescimento de lucros, você devia investir nas cíclicas. Depois que o sol passar do meio dia, você volta pra “growth” e em algum momento você começa a ter ações defensivas.

RESUMO DA TESE:

  • Sim, vamos ter pressões inflacionárias de curto prazo nos EUA e vai assustar o mercado. Como se posicionar pra isso? Depende do que você acredita: se você acredita que tem muito hiato do produto e que a economia americana vai voltar muito forte, você teria que ter uma visão muito bullish, porque a capacidade de supply da economia americana vai fazer a inflação ceder depois

  • Agora, se a sua visão é negativa, o Fed teria que subir juros. Isso pode acontecer e o mercado já está cutucando o Fed. Isso não seria o fim do ciclo econômico, seria uma acomodação que pode abrir uma oportunidade de compra.

  • Temos alguns hedges para isso. Estamos comprados nas taxas de juros curtas dos EUA. Porque se a volatilidade ficar muito grande, vai ser porque as pessoas vão começar a duvidar que o Fed vai segurar a alta de juros pra 2024, elas vão achar que vai subir em 2022. Então é uma proteção muito barata para caso o mercado fique muito volátil.

  • Ações de techs podem não ter performado bem agora, mas é natural isso, ano passado elas foram bem, agora elas estão pausando e os cíclicos estão vindo.

  • Podemos ter volatilidade mais pra frente pela taxa de juros, isso sempre acontece em todos os ciclos.

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