De “remota” para “possível”: a contingência da B3 de R$ 31,2 bi que fez a ação cair 7,7% apesar do bom resultado

De “remota” para “possível”: a contingência da B3 de R$ 31,2 bi que fez a ação cair 7,7% apesar do bom resultado

SÃO PAULO – Por mais um trimestre, a operadora da Bolsa brasileira B3 (B3SA3) registrou um resultado considerado sólido.

A B3 apresentou lucro líquido recorrente de R$ 1,231 bilhão no segundo trimestre, uma alta de 21,6% sobre os R$ 1,012 bilhão de lucro registrados um ano antes. Na comparação com o primeiro trimestre houve uma queda de 7,9%.

O resultado foi puxado pela forte atividade dos mercados brasileiros de ações e de dívida, fazendo com que a companhia superasse as projeções dos analistas consultados pela Refinitiv, que, na média, esperavam lucro de R$ 1,19 bilhão.

O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) recorrente registrou alta de 30,6% em um ano, para R$ 1,853 bilhão entre abril e junho deste ano, com a margem Ebitda indo para 80,9%, avanço de 6,58 pontos percentuais.

Enquanto isso, a receita líquida da companhia ficou em R$ 2,417 bilhões, valor 26,7% maior que os R$ 2,129 bilhões apresentados no segundo trimestre de 2020, e praticamente estável na comparação trimestral.

Conforme destaca a XP, a empresa continua a se beneficiar de: i) um Volume Médio de Negociações Diárias (ADTV) elevado, expandindo 17,1% na base anual; ii) atividade recorde de Ofertas de Ações (ECM), totalizando 13 IPOs e 10 follow-ups no trimestre; e iii) aumento de receitas em todos os segmentos.

Contudo, a sessão desta quinta-feira pós-resultado foi de forte baixa para as ações da B3: os papéis B3SA3 fecharam em queda de 7,71%, a R$ 13,89.

Isso porque, mais do que os resultados, os analistas e investidores de mercado estão de olho em outro anúncio feito pela companhia juntamente com os resultados da empresa.

A B3 revisou a classificação de risco de uma contingência legal de “remota” para “possível”. Esta contingência está relacionada a uma ação na qual B3 é acusada de supostamente causar prejuízos em operações de mercado futuro de dólar conduzidas pelo Banco Central em janeiro de 1999.

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Desde então, a empresa recebeu uma decisão desfavorável em 2012 e uma decisão favorável em 2017, e agora aguarda o julgamento do processo pelo Supremo Tribunal de Justiça (STJ).

Recentemente, o Ministério Público Federal (MPF) apresentou parecer adverso a ser considerado na decisão do STJ, o que levou a empresa a alterar sua classificação de risco para possível. Atualmente, o valor atualizado da contingência é de R$ 31,2 bilhões (incluindo juros e multas).

Para o Itaú BBA, esta discussão – e o montante considerável a ela associada – não estava no radar dos investidores.

“Precisamos obter mais detalhes da administração da companhia sobre: ​​i) os próximos passos na discussão; ii) quais os gatilhos que levariam a empresa a mudar o risco de possível para provável – o que seria contabilizado no resultado; e iii) caso a decisão seja desfavorável a B3, quais os termos e as possíveis negociações para o pagamento”, afirmam os analistas do BBA.

A avaliação dos analistas é de que o mercado não estava esperando uma mudança na recomendação legal associada a uma contingência jurídica relacionada à BM&F, o que teria sim um impacto negativo nos papéis apesar dos sólidos resultados do segundo trimestre de 2021.

Durante teleconferência, executivos da companhia apontaram obter resultado favorável sobre essa contingência jurídica.

Daniel Sonder, vice-presidente financeiro da B3, destacou: “É um caso no qual o último julgamento foi favorável à B3, em que conseguimos demonstrar que atuamos com absoluta correção, fomos corréus junto com sócios e administradores de dois bancos, de ter levado um investidor ao prejuízo. Mostramos para as autoridades que dissemos que havia risco
financeiro, mas tivemos uma recomendação dos nossos consultores jurídicos de que seria prudente fazer essa provisão e de tornar isso público aos nossos acionistas, mas estamos confiantes de ter um resultado favorável nessa ação”.

Além desse fator, a XP também cita algumas outras surpresas negativas no balanço.

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As despesas de pessoal e encargos tiveram aumento de 32,6% na base anual, impulsionado por reajustes salariais, bônus e despesas não recorrentes. Já com relação ao processamento de dados, esse foi outro destaque negativo, com um aumento de 43,2% na base anual, devido à intensificação dos projetos de aumento de capacidade e novas funcionalidades nas plataformas B3.

A empresa anunciou um aumento de seu guidance (projeção) de despesas operacionais ajustadas para o ano sendo agora uma expectativa de R$ 1,295 bilhão a R$ 1,345 bilhão (anteriormente era de R$1,225 bilhão a R$ 1,275 bilhão).

Os analistas da XP avaliam que, apesar das surpresas negativas, os resultados vieram bons, ainda que reiterando   recomendação neutra e preço-alvo de R$ 21,70 por ação.

Já no momento, os analistas do Itaú BBA destacaram que ainda mantêm recomendação outperform (desempenho acima da média do mercado), com o preço-alvo de R$ 22.

Cabe destacar que essa incerteza sobre a contingência legal é uma notícia negativa em um cenário já de queda para as ações, de 24% em 2021 (até o fechamento de quarta-feira), refletindo temores do mercado quanto à possibilidade de uma nova bolsa, tirando o monopólio da companhia.

Nesse sentido, a Levante Ideias de Investimentos avalia que, apesar de enxergar a possibilidade de novos tipos de negociação no mercado financeiro que excluam a B3 do processo – em que as corretoras realizem a compra e venda de ativos internamente, semelhante ao que já fazem para contratos de mini índice -, acha improvável o surgimento de uma nova bolsa de valores no curto prazo devido à dificuldade de entrada neste mercado.

E, mesmo sem uma pressão competitiva direta, isso é, sem nenhuma outra bolsa de valores no país, a companhia entende que deve melhorar continuamente para não perder sua relevância no mercado.

“O lançamento de uma gama maior de BDRs na segunda metade de 2020 é um exemplo da melhoria contínua nos seus produtos e serviços que a companhia vem implementando, para 2021 esperamos o lançamento de mais produtos que ajudem a companhia a aumentar o volume de negócios”, avalia a Levante.

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Além disso, para tentar mostrar novas avenidas de crescimento, a companhia anunciou recentemente uma parceria
com a Totvs (TOTS3), com um aporte de R$ 600 milhões na TSF Soluções em Software – subsidiária da Totvs – que passará a deter participação minoritária de 37,5% no capital social da TSF. “Investindo no mercado de soluções de software para instituições financeiras, diversificando suas fontes de receita para um mercado adjacente, se aproveitando da inteligência de dados única que já possui”, apontam os analistas da casa de research.

Na teleconferência com analistas, Sonder ressaltou que a B3 está preparada para a concorrência e, que atualmente já têm competidores. “Atuamos num ambiente competitivo, há escolha para os investidores e não há problema.”

De acordo com consenso Refinitiv, de 13 casas que cobrem o papel, 9 possuem recomendação de compra para B3SA3, 3 de manutenção e 1 de venda. O preço-alvo médio é de R$ 21,16, alta de 40,6% em relação ao fechamento da véspera.

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