BRASÍLIA (Reuters) – O Brasil caminha para a “estagflação” à medida que a economia cambaleia à beira da recessão e a inflação dispara acima da meta oficial para o ano, deixando o Banco Central (BC) em uma posição cada vez mais difícil.
Como a autoridade monetária pode lidar com as pressões sobre os preços sem causar danos adicionais a uma economia devastada por uma das epidemias de Covid-19 mais letais do mundo?
“Em parte isso está ocorrendo no Brasil porque os custos de produção mais altos estão pressionando a inflação e afetando a atividade econômica”, disse Caio Megale, economista-chefe da XP Investimentos e ex-integrante da equipe de Paulo Guedes no Ministério da Economia.
Como muitos, Megale acredita que o BC manterá a inflação sob controle e que qualquer surto de estagflação será relativamente brando.
Mas ele reconhece o risco potencial de a alta da inflação alimentar expectativas futuras, especialmente em uma economia com um histórico de inflação elevada, onde contratos e acordos indexados ainda têm preponderância.
O BC elevou a taxa básica de juros da economia no mês passado pela primeira vez em seis anos, para 2,75%, de uma mínima recorde de 2,00%, e indicou a intenção de promover nova alta de 0,75 ponto percentual em maio.
Com a inflação em 12 meses agora em 6,1%, bem acima da meta central de 3,75% para o ano, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, disse que a ideia é antecipar o aperto para manter as expectativas para 2022 e além sob controle e evitar assim aumentos acentuados da Selic.
Muitos economistas avaliam que a inflação vai superar 7% em breve. O real acumula queda de quase 10% este ano após recuo de 25% no ano passado, enquanto dados do índice de gerentes de compras do IHS Markit mostram que os custos de insumos em manufatura e serviços são os mais elevados desde o início da série, em 2007.
A perspectiva fiscal, com o presidente Jair Bolsonaro ainda não tendo sancionado o Orçamento de 2021 e o governo potencialmente a caminho de romper sua regra do “teto de gastos” neste ano, também estão alimentando temores de inflação.
RECESSÃO?
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“O Brasil parece particularmente vulnerável a um aumento maior e mais persistente da inflação… dadas as dinâmicas instáveis na economia, nas políticas públicas e na política”, escreveram economistas do Goldman Sachs em relatório, citando a taxa de câmbio, o grau de ancoragem das expectativas de inflação e as políticas de curto prazo.
Ainda que o BC esteja aumentando o custo dos empréstimos, o juro real está em -3,35%, menor nível em mais de 20 anos.
Campos Neto tem defendido reiteradamente a postura de “normalização parcial” da autarquia. “Precisamos mexer na taxa, mas ainda estar em terreno estimulativo”, afirmou na terça-feira.
Isso se deve em grande parte ao fato de as perspectivas de crescimento de curto prazo estarem se deteriorando, conforme a pandemia não dá sinais de retração e as obstruções fiscais e políticas em Brasília contribuem para minar a confiança de empresários, consumidores e investidores.
O desemprego, por sua vez, subiu acima de 14% e pode em breve superar o recorde histórico de 14,6%, alcançado em 2020.
É provável que essas dinâmicas persistam pelos próximos meses antes de as vacinações em massa ajudarem a economia a se recuperar no segundo semestre do ano, quando os choques nos preços das commodities e nas taxas de câmbio podem também começar a perder força.
Economistas do BNP Paribas projetaram nesta semana uma recessão técnica, vendo a economia encolher 0,7% no primeiro trimestre e 1,3% no segundo.
Mas como muitos de seus colegas, Gustavo Arruda, chefe de pesquisa para América Latina do BNP Paribas, está confiante de que a estagflação do Brasil será amena e de curta duração –muito longe da combinação de choque de preços de energia e espiral de aumento de salários que arruinou muitas economias importantes na década de 1970.
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“A política monetária não correrá o risco de permitir que as expectativas de inflação tornem-se desancoradas”, disse Arruda.
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