(Bloomberg) – Com o forte aumento da demanda, o minério de ferro é a commodity com o melhor desempenho do mundo neste ano, e os preços podem permanecer elevados por vários meses.
O rali já dura quase dois anos, depois que o rompimento de uma barragem no Brasil paralisou uma parte significativa da produção do segundo maior fornecedor do mundo. O choque de oferta ocorre em meio à decisão de gigantes da mineração da Austrália de manter a produção controlada, satisfeitas em aumentar os preços em vez de se apressarem em elevar a oferta.
No segundo semestre deste ano, a oferta instável coincidiu com o aumento da demanda. A China, o maior consumidor, investe pesado em construção para resgatar a economia dos efeitos da pandemia. Neste ano, a produção de aço do país deve ultrapassar 1 bilhão de toneladas pela primeira vez.
O preço à vista de referência atingiu o maior nível em nove anos na semana passada, enquanto os mercados futuros de Cingapura e Dalian, que começaram a negociação em 2013, registraram máximas históricas. Previsões apontam que a falta do insumo essencial para a fabricação de aço persistirá no próximo ano.
Os ganhos levaram a indústria siderúrgica da China a pedir intervenção do governo. As usinas se queixam que a especulação, e não os fundamentos, tem impulsionado os preços. A bolsa de Dalian tentou controlar especuladores com termos de negociação mais rígidos. Mais medidas de reguladores poderiam limitar a valorização do mercado, mas não resolveria o desequilíbrio entre a oferta e a demanda.
“A China tem sido incrivelmente forte”, disse Erik Hedborg, analista sênior do CRU Group, acrescentando que o país agora responde por 77% da demanda mundial transoceânica por minério de ferro, a maior fatia de todos os tempos. “Quando os estoques de minério de ferro já estão baixos na China, as usinas ficam muito sensíveis a notícias negativas de fornecimento.”
Na quarta-feira, os futuros se valorizaram novamente. O contrato mais ativo chegou a subir 1,2%, para US$ 155,15 a tonelada em Cingapura. O rali tem sido tão forte que os preços registraram apenas uma queda em dezembro.
Produção da Vale
Antes a maior produtora de minério de ferro do mundo, a Vale (VALE3) caiu para o segundo lugar no ano passado, depois do rompimento da barragem em Brumadinho que matou cerca de 270 pessoas e provocou uma reforma de suas instalações de armazenamento de resíduos.
A Vale ainda está cerca de 100 milhões de toneladas aquém dos 400 milhões de toneladas em produção prometida antes do desastre da barragem de Brumadinho. A recuperação tem sido mais lenta do que o esperado, privando o mercado do tão necessário minério. Como suas rivais australianas – Rio Tinto, BHP e Fortescue Metals -, a Vale priorizou o valor em relação ao volume. Com os preços atuais acima de US$ 150 a tonelada e os custos de mineração baixos, de US$ 12 a tonelada, a abordagem compensou.
PUBLICIDADE
As ações da Fortescue dobraram neste ano depois de desempenho equivalente em 2019. Mesmo os papéis da Vale subiram mais de 50% no segundo semestre, já que os fortes preços compensaram as preocupações operacionais. Os lucros das siderúrgicas, entretanto, foram amortecidos pelo aumento do preço da liga para sustentar o boom da construção.
No início deste mês, a Vale deu outro impulso aos preços ao cortar sua meta de produção neste ano e divulgar uma estimativa para 2021 aquém das expectativas em 20 milhões de toneladas, de acordo com o analista da Bloomberg Intelligence, Andrew Cosgrove. O déficit virá em um momento frágil, já que a demanda por minério de ferro fora da China começa a se recuperar da pandemia.
Quer receber aluguel sem ter imóvel? Thomaz Merluzzi, estrategista de Fundos Imobiliários da XP, oferece treinamento gratuito para quem busca uma fonte de renda passiva – inscreva-se já!