Alta do risco para Petrobras e baixa de mais de 5% da ação, renúncia de R$ 3 bi com impostos zerados: os impactos das falas de Bolsonaro

Alta do risco para Petrobras e baixa de mais de 5% da ação, renúncia de R$ 3 bi com impostos zerados: os impactos das falas de Bolsonaro

SÃO PAULO – As ações da Petrobras (PETR3;PETR4registram forte baixa na sessão desta sexta-feira (19), com os investidores repercutindo a fala de Jair Bolsonaro, presidente da República, na véspera, com críticas ao forte reajuste de preços de combustíveis e aumentando a percepção de risco para a estatal. Às 10h47 (horário de Brasília), os ativos PETR3 caíam 5,57%, a R$ 27,79, enquanto os PETR4 caíam 5,09%, a R$ 27,77.

Após a polêmica nos primeiros dias do mês com a notícia de que a Petrobras havia ampliado de três meses para um ano o prazo em que calcula a paridade internacional de preços dos combustíveis (veja mais clicando aqui), o anúncio da véspera de um forte reajuste dos combustíveis (alta de 15% para o diesel e de 10% para a gasolina) havia sido considerado positivo pelos analistas de mercado para a estatal.

Isso uma vez que acabava por reduzir fortemente o desconto em relação aos valores internacionais (veja mais aqui) em meio à valorização do petróleo e a desvalorização do câmbio, reforçando assim a avaliação da independência da política de preços da companhia, que foi posta em xeque nos últimos dias.

Contudo, mesmo os analistas que viram a notícia como positiva para os papéis da estatal destacaram na última quinta-feira possíveis reações no radar, como foi o caso do Bradesco BBI ao apontar que o risco para a Petrobras diminuiria significativamente, mas havia o risco de forte reação por parte dos caminhoneiros.

Já a XP Investimentos destacou que um reajuste de tamanha magnitude ter que ocorrer e mesmo assim não ser suficiente para a companhia retornar à níveis de paridade de importação ilustravam os desequilíbrios recentes da política de preços de combustíveis da Petrobras após um represamento em meio a um cenário de volatilidade do câmbio e dos preços do petróleo.

Além disso, os analistas da XP reforçaram na noite de ontem que ainda não se sabia se os reajustes significativos nos preços dos combustíveis – especialmente no caso do diesel – iriam gerar repercussões futuras em termos de descontentamento da população (principalmente no que diz respeito à categoria profissional dos caminhoneiros) e reações na esfera política. Cabe lembrar que, no começo de fevereiro, em meio ao cenário mais negativo sobre a política de preços da estatal, tanto a XP quanto o BBI reduziram a recomendação das ações da Petrobras para equivalente à neutra.

Horas depois, a reação veio: o presidente da Abrava (Associação Brasileira dos Condutores de Veículos Automotores), Wallace Landim, conhecido como Chorão, divulgou uma nota reclamando do anúncio do novo aumento de preços de combustíveis. Chorão foi um dos articuladores da greve de caminhoneiros de 2018, e cobrou que o presidente Bolsonaro reduzisse os impostos cobrados sobre os combustíveis.

“O que nos faz questionar onde está a palavra do governo federal que na pessoa do presidente da República sinalizou a diminuição dos impostos federais dos combustíveis e vamos para o quarto aumento consecutivo em menos de 30 dias se mantendo inerte e nada fez de concreto até o presente momento”, diz a nota.

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Posteriormente, em sua tradicional live semanal nas redes sociais, Bolsonaro afirmou que considerou o aumento anunciado pela Petrobras, o quarto do ano, “fora da curva” e “excessivo”. “Não posso interferir nem iria interferir [na estatal]. Se bem que alguma coisa vai acontecer na Petrobras nos próximos dias, tem de mudar alguma coisa”, afirmou. A empresa afirmou na quinta que não comentará a fala do presidente.

A artilharia se voltou para o presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco. Bolsonaro apontou que “obviamente” vai ter consequência uma fala do CEO: dias atrás, o executivo havia dito que a ameaça de greve de caminhoneiros não era problema da Petrobras.

Na live, Bolsonaro reclamou dos preços dos combustíveis e anunciou medidas com o objetivo de reduzi-los. “Nós acusamos responsabilidade de todo mundo. Pessoal, ninguém dá bola pra nada. Você vai na Receita: ‘Você, da Receita, não fiscaliza por quê?’ O cara não tem resposta. Eu não posso chamar atenção da Agência Nacional de Petróleo, porque é independente, mas tem atribuição também. Não faz nada”, disse.

“Você vai em cima da Petrobras e ela fala: ‘Opa, não é obrigação minha’. Ou, como disse o presidente da Petrobras, há questão de poucos dias, né: ‘eu não tenho nada a ver com caminhoneiro. Eu aumento o preço aqui, não tenho nada a ver com caminhoneiro’. Foi o que ele falou, o presidente da Petrobras. Isso vai ter uma consequência, obviamente”, emendou.

Bolsonaro tem um forte ligação, desde a época da campanha, com os caminhoneiros e tem anunciado uma série de medidas para a categoria durante a sua gestão.

O Credit Suisse avaliou a crítica de Bolsonaro à alta de preços de combustíveis praticada pela Petrobras como negativa apontando que, na avaliação do banco, o mercado deverá precificar o aumento de risco de interferência.

Ao Broadcast, na véspera, o analista de petróleo e gás da consultoria StoneX, Thadeu Silva, apontou: “O mercado claramente deve precificar alguma coisa contra a Petrobras amanhã [hoje], com o risco de uma ingerência mais direta na política de preços. Tanto câmbio como (as ações da) Petrobras vão ser impactados, a não ser que surja alguma informação antes da abertura para dirimir as incertezas”. Ele ainda complementou: “Essas declarações do Bolsonaro são fortes, mas temos de ver o resultado efetivo delas”.

Vale destacar que, no pré-market da Bolsa de Nova York, às 8h48 (horário de Brasília), os ADRs (na prática, as ações negociadas no exterior) PBR da estatal já caíam 2,96%, a US$ 10,50, já indicando uma sessão negativa para os papéis na B3. A sessão, vale destacar, também é de perdas de cerca de 2% para o brent e para o WTI, após a forte alta recente do petróleo.

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Silva ainda apontou que o ajuste realizado pela Petrobras na véspera era necessário para a estatal não arcar sozinha com o aumento do preço do petróleo no mercado internacional, diante da disparada do preço da commodity, que voltou ao patamar dos US$ 60 o barril. Após o aumento, os players privados começaram a se movimentar para importar cargas dos combustíveis, já que a paridade com o preço internacional ficou mais favorável.

“A gente está com uma bomba armada muito séria. Conforme a Petrobras foi retrasando os aumentos, a defasagem (em relação ao mercado internacional) foi crescendo e paralisando a logística de distribuição. Havia um impasse porque o suprimento para março estava seriamente ameaçado”, apontou à agência. Para ele, ou a companhia aumentava os preços dos combustíveis ou teria de arcar com prejuízos para garantir o abastecimento.

Por enquanto, os investidores e analistas ainda monitoram os próximos atos do presidente. A equipe de análise da XP Investimentos aponta que, apesar de não ser possível avaliar impactos sobre a companhia, a reação do mercado é negativa tendo em vista a maior percepção de riscos para a autonomia da estatal e de sua política de preços de combustíveis. “Isso reforça nossa visão de maior cautela com a Petrobras, com recomendação neutra nas ações e preços-alvo de 12 meses de R$32 para PETR4 e PETR3”, ressaltam Gabriel Francisco e Maira Maldonado, que assinam o relatório.

A princípio, Bolsonaro anunciou na quinta que, a partir de 1º de março, a cobrança de impostos federais sobre o gás de cozinha cairá a zero “para sempre”. Além disso, o presidente prometeu zerar por dois meses, contados a partir de 1º de março, os impostos federais sobre o óleo diesel.

De acordo com Caio Megale, economista-chefe da XP Investimentos, a primeira estimativa aponta que zerar os impostos federais sobre o diesel, aos níveis atuais de preço e volume de vendas, representaria uma renúncia de receitas da ordem de R$ 1,5 bilhão por mês (R$ 3 bilhões no bimestre anunciado, portanto). Já para o gás de cozinha, o impacto tende a ser pequeno.

“O mais relevante, contudo, é que o atual arcabouço fiscal brasileiro não permite tal medida sem compensação”, avalia, salientando a avaliação de Jorge Rachid de que o Poder Executivo, mediante Decreto, pode reduzir as alíquotas das contribuições para o PIS e para a Cofins sobre combustíveis. No entanto, há necessidade de adoção de medidas compensatórias para atender a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF).

Na mesma linha, Felipe Salto, diretor executivo da Instituição Fiscal Independente (IFI) do Senado Federal, ressaltou: “O anúncio mostra que falta planejamento. O valor não é tão expressivo, mas cabe lembrar que há uma série de questões não contempladas no PLOA, ao qual se soma esta novidade. A LRF exige compensações. Quanto antes o governo tiver um plano para o curtíssimo prazo e para o médio prazo, melhor.”

Assim, além da incerteza pairando novamente para a Petrobras, há a expectativa de um impacto sobre as receitas do governo e percepção de falta de planejamento estatal, o que também deve aumentar a volatilidade do mercado.

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(com Agência Estado)

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