(Bloomberg) – Juros baixos num ambiente de recessão e desarranjo fiscal na pandemia do coronavírus: essa é a explicação de gestores e economistas para a elevada volatilidade do câmbio no Brasil, a mais alta entre os emergentes. A questão intriga até mesmo o Banco Central, que analisa o comportamento da moeda em busca de maiores explicações.
“O juro baixo favorece um câmbio mais volátil quando os fundamentos estão desarrumados”, diz Solange Srour, economista-chefe da ARX Investimentos.
O Brasil fez uma transição de recordista de juros, que remuneravam os investidores e atraíam operações de carry trade, para uma Selic no piso histórico de 2,25%.
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“É como se a gente tivesse passado a história toda tomando corticoide: está bem, mas sob efeito de uma droga; quando se tira a droga, a realidade aparece”, afirma Luiz Fernando Figueiredo, ex-diretor do BC e CEO da Mauá Capital.
Para o ex-presidente do BC e presidente do conselho do Credit Suisse no Brasil, Ilan Goldfajn, a queda da Selic é positiva, mas deixa o real mais dependente do risco Brasil, que acaba se refletindo mais na taxa de câmbio, segundo afirmou em uma live.
“Kit Faria Lima”
O juro baixo leva o mercado a adotar há algum tempo o chamado “kit Faria Lima”, no qual o investidor compra dólar e bolsa e aplica em juros curtos, diz Sergio Zanini, sócio gestor da Galapagos Capital, numa alusão ao centro financeiro de São Paulo.
Para ele, o Brasil não pode ser comparado a países ricos e com juros ainda menores, mas cujas moedas são menos voláteis. “Eles têm condições mais estáveis do ponto de vista fiscal e um histórico de crescimento mais estável também. O Brasil ainda precisa se provar.”
A posição do governo em relação ao câmbio também é vista por alguns analistas como uma das razões da volatilidade alta. “Desde que assumiu, o ministro Paulo Guedes diz que é ‘juro baixo e dólar alto’, enquanto o BC tem dito que não olha o nível”, diz Solange, da ARX.
Novas formas de negociação no mercado, com mais transações com contratos menores e feitos por fundos automatizados, também são apontados como um componente – mas que “não explica 100%” do comportamento, segundo o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.
Remédio
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Ele prevê que a volatilidade do câmbio deve diminuir nas próximas semanas. “A questão é qual é o remédio”, diz Campos Neto, em live realizada na quarta-feira pelo Valor Econômico.
Segundo o presidente do BC, quanto menos atuação no câmbio, melhor. Instrumentos já usados em outros países, como opções cambiais e intervenção em corredor, não teriam mostrado resultados satisfatórios.
Para analistas, as fortes oscilações do câmbio terão alívio à medida que as incertezas diminuam e a economia brasileira volte à normalidade pós-pandemia, inclusive com melhora fiscal e reformas, no processo de retomada.
“À medida que a agenda de reformas começa a andar e o cenário externo evolui favoravelmente, os prêmios de risco, de maneira geral, se comprimem, e isso ajuda na correção da volatilidade do dólar contra o real”, afirma Aurelio Bicalho, economista-chefe da Vinland Capital.