Primeiro leilão de transmissão de 2021 tem disputa acirrada e gera dúvidas sobre retorno das empresas vencedoras

Primeiro leilão de transmissão de 2021 tem disputa acirrada e gera dúvidas sobre retorno das empresas vencedoras

SÃO PAULO – O primeiro leilão de transmissão de energia de 2021 aconteceu na última quarta-feira (30), realizado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).

O certame teve todos seus ativos arrematados, garantindo R$ 1,3 bilhão em investimentos para a implantação e desenvolvimento de 515 km de linhas, além de subestações com capacidade de transformação de 2.600 mega-volt-ampères (MVA) distribuídos em seis Estados. Os estados são os seguintes: Acre, Mato Grosso, Rio de Janeiro, Rondônia, São Paulo e Tocantins.

O leilão foi disputado e a principal vencedora foi a MEZ Energia, empresa dos membros da família Zarzur, fundadora da incorporadora EZTec (EZTC3). Cabe destacar que o grupo já havia sido destaque no leilão de dezembro de 2020, quando realizou sua estreia e no qual arrematou o maior número de lotes.

Em meio à forte competição, o deságio médio foi de 48,12% sobre a Receita Anual Permitida (RAP) máxima dos projetos. Para esse leilão, a Mez optou pelo foco nos lotes 3 e 5 ofertados, com instalações em Mato Grosso e em São Paulo, zonas que fazem sentido para seu atual portfólio e que se beneficiam de sinergias de operação e manutenção de seus atuais projetos.

A Energisa (ENGI11) arrematou o lote 4, situado em Tocantins, e a EDP, Energias do Brasil (ENBR3), arrematou o lote 1, que envolve instalações nos Estados do Acre e Rondônia, passando a ter mais de 1,9 mil km de linhas em seu portfólio. Também marcou presença na disputa a chinesa Shanghai Shemar Power Engineering Co., em sua segunda participação em leilão e a primeira arrematando ativos, conquistando o lote 2 ofertado.

A Levante Ideias de Investimentos ressalta que, como principal destaque do certame, a MEZ Energia passa a ter onze projetos de transmissão em seu portfólio, somando cerca de R$ 3,4 bilhões em investimentos regulatórios, movimento que evidencia seu esforço em despontar no setor como um agente relevante. Também sagrando-se vencedoras e expandindo seu portfólio de atuação, os analistas também destacam como positivo o movimento de Energisa e Energias do Brasil.

A forte competição, que resultou no deságio médio de mais de 48%, contudo, não é uma notícia necessariamente positiva para o setor, avaliam os analistas, uma vez que gera-se ressalva sobre a correta precificação dos ativos arrematados, sendo necessário aguardar para verificar se essas empresas ganhadoras conseguirão extrair valor de projetos com deságios tão pronunciados.

Outro ponto de ressalva é que empresas mais focadas em distribuição e com projetos de transmissão menos relevantes, caso da Energisa, apresentam maior risco de execução para projetos de transmissão, diferente de companhias puramente transmissoras, como a Taesa (TAEE11) e Isa CTEEP (ativo=TRPL4]), que já possuem ativos neste segmento e com maior históricos.

O Credit Suisse também aponta que a forte concorrência pela maior parte dos blocos, com a participação de grandes empresas de eletricidade e empresas de engenharia, resultou em descontos significativos, e em retorno potencialmente apertado.

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Na avaliação do banco, EDP Brasil e Energisa obtiveram blocos que devem se beneficiar de incentivos fiscais (Sudam, a Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia) e financiamento de bancos de desenvolvimento, como Banco do Nordeste (BNB) e Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Como o bloco da Energisa fica em Tocantins, onde a empresa opera uma unidade de distribuição e vem construindo uma nova subestação, o banco acredita que a empresa pode se beneficiar de sinergias. No caso da EDP, o prazo de cinco anos para encerrar o projeto também permite uma antecipação que pode valorizar as ações.

O Credit avalia que a competição acirrada ocorre em meio a um cenário complicado, com oportunidades de crescimento limitadas e taxas ainda em níveis baixos.

A concorrência de novos atores do setor tem forçado as empresas tradicionais a realizarem ofertas mais agressivas. O banco espera que o efeito final sobre a valoração seja limitado, e diz que investidores têm focado mais em outros fatores, como os impactos em potencial da reforma tributária e a crise hídrica para precificar as ações.

A Levante aponta que, para os próximos leilões, estima-se que o cenário de fortes deságios deva se repetir, sugerindo oportunidades de crescimento limitadas para companhias já atuantes no segmento. “Por fim, entendemos também que o cenário valoriza os projetos rentáveis que essas companhias conquistaram em leilões de anos anteriores à medida que a concorrência reduz a TIR [Taxa Interna de Retorno] exigida para operação de linhas de transmissão”.

Está previsto ainda mais um leilão de transmissão para este ano, em dezembro. Para 2022, a expectativa é que os certames sejam de maior porte, com investimentos da ordem de R$ 12 bilhões.

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